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Lia Bock

A parte ruim da volta às aulas: os grupos de Whats voltando a bombar

Lia Bock

28/01/2020 04h00

(iStock)

Esta semana as aulas voltam na maioria das escolas. Para uma legião de pais e mães, esse é um motivo pra comemorar. Para muitos, as férias são eternos 30 dias em que as aulas param, mas a vida continua. E realmente é um desafio cuidar, entreter, alimentar e cansar os pequenos enquanto temos texto pra fechar ou ponto pra bater. Toca organizar viagem com os avós, cinema com os tios, sorvete com os amigos que permanecem na cidade e planejar aquela viagem na alta temporada que sempre deixa um rastro de meses no cartão de crédito. 

Quem tem tempo, grana, disponibilidade de sobra e ama as férias escolares que me desculpe, mas Deus fez a volta às aulas para a gente tornar a respirar.

Só tem uma única coisinha que não é legal: a volta dos grupos de WhatsApp dos pais da classe. Gente, que bênção que é o silêncio do zap durante as férias, né? Nada contra a troca produtiva de informação dos pais, mas vamos combinar que bom senso não está muito em alta no mercado das mensagens instantâneas. Para quem tem muitos filhos então, a coisa se intensifica. 

Preciso confessar que a volta do zap da escola bombando não me causa nenhuma alegria. Podem me chamar de amarga, mas como já roubaram minha carteirinha de "boa mãe" há algum tempo, perdi o filtro.

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Desde que o grupo de Whats da escola virou o "Google da educação", me pego pensando onde vamos parar. Nunca quis dar celular para as crianças e sei que minha filhas pequenas ainda demoram pra chegar nessa fase, mas sonho com o dia em que todos eles possam estabelecer sozinhos suas comunicações. 

Verdade que o uso dos grupos já passou por algumas metamorfoses desde sua criação há cerca de dez anos. Hoje já não vemos mais 50 mensagens de bom dia às 7h da manhã. Mas há questões que seguem conosco.

Muita gente ainda usa o grupo para fazer queixa da escola ou perguntas que deveriam ser direcionadas aos professores. Cada vez que eu leio "não gostei do jeito de conduziram tal história" tenho uma espécie de choque anafilático e me seguro para não responder "que tal você falar isso para a escola?". Por que, meu Deus, as pessoas insistem em jogar as coisas no grupo antes de entrar no site ou passar a mão no telefone? De onde veio tamanha necessidade de compartilhar?

Muita gente fala com o grupo como se conversa com as inteligências artificiais dos gadgets: "Siri, que dia é hoje?", "Alexa, quantos feriados tem este ano?", "grupo de pais, que dia começam as aulas?".

Precisamos lembrar que, muitas vezes, estamos falando de grupos onde estão 50 pessoas. Cada uma com suas dúvidas e demandas, cada uma com seus horários, ideologias e crenças. É por isso que sigo pregando o uso ultraparcimonioso do zap de pais. Um lugar onde o que parece senso comum para uns é aberração para outros, onde piadinhas de qualquer tipo podem ofender e, claro, discussões políticas costumam criar polêmicas e estresses que, infelizmente, podem atrapalhar as relações de nossos filhos.

Mas uma queixa que escutei recentemente mostra que não precisa de abaixo-assinado contra político para criar climão no zap. Alguns pais adquiriram o hábito de, toda vez que o filho está com um colega da classe, mandar fotos no grupo. A atitude, aparentemente inofensiva, gera ansiedade e disputa entre as crianças, que automaticamente começam a contar quantas vezes fulano foi na casa do beltrano e se perguntar "por que eu não fui". Os próprios pais acabam ficando chateados e alimentando sentimentos controversos comuns na fase escolar, mas totalmente inadequados para os progenitores.

Tipo de problema que a gente não tinha antes desse excesso de socialização high tech. Tipo de problema que mostra que até as melhores das intenções ganham filtros enloquecedores no WhatsApp.

Feliz 2020 para o ano letivo e um axé bem cheio de bom senso para nossos grupos de pais da escola.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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