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Lia Bock

Piada de Chiquinho Scarpa com GPS em mulher não tem a menor graça

Universa

09/01/2020 04h00

Chiquinho Scarpa e Luana Risério (Reprodução/ Instagram)

Chiquinho Scarpa mais uma vez ganhou destaque com seus factoides. Disse que teria implantado um chip na ex-namorada para localizá-la. Não era verdade, ainda bem. Mas a piada não tem a menor graça e além de colocá-lo (mais uma vez) na fila do tiozão do pavê mostra que piadinhas machistas são vistas como normais pela nossa sociedade.

Tenho certeza que alguns vão dizer "ah, para, era só uma brincadeira". Mas por que seguimos achando que piadas machistas são engraçadas? Por que ainda passamos pano para gente que, no fim do dia, só colabora para uma sociedade mais desigual e cheia de preconceitos?

É importante termos em mente que tudo que a gente fala, twitta e faz publicamente influencia pessoas e também a cultura da nossa sociedade. Os críticos do politicamente correto vão torcer o nariz, mas a verdade é que quando somos pessoas públicas ou damos entrevistas públicas estamos influenciando um monte de gente. Estamos colocando sementinhas na cabeça das pessoas.

Por isso, celebridades e influenciadores no geral precisam ter responsabilidade sobre o que dizem. Mesmo em forma de piada.

E vejam, não há problema nenhum em assumir publicamente uma postura crítica referente a assuntos polêmicos. Você pode criticar algumas colocações do feminismo se discordar delas ou argumentar contra a luta das minorias identitárias, mas que isso seja feito com argumentos, com a defesa de uma ideia. Jogar no mundo piadas, rajadas de ódio ou machismo só nos conduzirá ao mar de opiniões vazias que nos leva a um mundo bem pior, onde, por exemplo, mulheres são mortas porque querem se divorciar.

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Pode parecer distante para alguns, mas o crescente número de feminicídios no Brasil tem muito a ver com a ascensão do discurso onde a mulher é colocada como posse do homem. Um discurso antigo e já superado que tem ganhado força em muitas igrejas e círculos machistas.

O pastor vai lá, fala que a mulher não pode estudar mais que o homem ou que deve obediência ao marido. O sujeito acredita e, quando a esposa diz que quer se separar, ele acha que tem o direito de matá-la. Claro, se disseram que ela é dele, ele pode fazer o que quiser, não é mesmo?

Digo isso pra mostrar que se a gente não quer lidar com o desconcertante índice de feminicídio precisa valorizar a mulher. Precisa parar de fazer piadinha que a reduza ou a coloque como seres de segunda classe.

Não é a nossa mão que puxa o gatilho, mas tenham certeza, enquanto sociedade estamos todos sujos de sangue!

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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