Lia Bock http://liabock.blogosfera.uol.com.br Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante no universo feminino. Thu, 02 Jul 2020 07:00:56 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O que o relato de Mia Khalifa nos ensina sobre o sexo e sua indústria http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/o-que-o-relato-de-mia-khalifa-nos-ensina-sobre-o-sexo-e-sua-industria/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/07/02/o-que-o-relato-de-mia-khalifa-nos-ensina-sobre-o-sexo-e-sua-industria/#respond Thu, 02 Jul 2020 07:00:56 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2702

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Nas últimas semanas, vimos relatos de duas ex-atrizes pornôs falando sobre os traumas dos tempos em que trabalharam na indústria. Mia Khalifa foi manchete por causa de seus desabafos nas redes sociais que visam expurgar as péssimas lembranças dos poucos meses de trabalho como atriz pornô. E a brasileira Vanessa Danieli chamou a atenção com um texto em que comemora três anos e seis meses fora da indústria de filmes adultos. Ali, ela também conclamava outras atrizes a contar os “podres do pornô”. 

As duas histórias são uma ótima oportunidade para falarmos dos efeitos nocivos da indústria tradicional do sexo na nossa sociedade. E digo tradicional porque filmes pornôs em si não são nocivos –já temos entre nós diversos exemplos que são respeitosos e deixam pra trás a velha forma de retratar relações sexuais.

O pornô tradicional, e que chamo aqui sem medo de antigo, é aquele onde Mia e Vanessa se meteram. Uma indústria extremamente machista, que desrespeita e viola as mulheres. Uma indústria criada e gerida por homens que pensam a mulher como objeto e para os quais sexo bom é sexo em que a mulher satisfaz o homem. Prazer feminino? Respeito aos desejos delas? Ninguém viu. 

Em resumo, estamos falando de uma indústria que maltrata (estupra e violenta) suas profissionais e mostra o sexo de uma forma deturpada formando, assim, gerações de pessoas que pensam que violência faz parte do sexo, entre outras deturpações bizarras. Sim porque, como bem disse Cindy Gallop neste TED, numa sociedade que trata o sexo como tabu e proíbe orientação sexual nas escolas, filme pornô vira cartilha.

Não canso de dar o exemplo de um fetiche nojento chamado “facefuck”, coisa que muitos de nós jamais conheceríamos se não fosse a insistência do pornô tradicional em jogar na nossa cara. A indústria insiste e, de repente, tem uma galera achando legal forçar o pênis goela adentro, muitas vezes fazendo a mulher vomitar. Não, não é normal e nem legal. Como vimos no documentário “Hot Girls Wanted, da Netflix, é um fetiche que flerta com a desumanidade e viola de forma aguda as mulheres. 

Esse é um dos exemplos que mostram como a indústria tradicional do sexo é tóxica, não só para suas trabalhadoras, mas para toda a sociedade. E não estou de forma alguma colocando aqui uma posição moralista sobre o pornô. O sexo faz parte de nossas vidas, e precisamos não só fazer, como falar sobre ele e também assistir.

Existem diversas produtoras dedicadas a fazer um retrato mais realista do sexo. E existem filmes tesudos e extremamente sensuais que não violam ninguém. O argentino “Filhas do Fogo é um deles. Quebrando todos os padrões heteronormativos que regem o gênero, o longa foi premiado em festivais importantes mundo afora, como Bafici 2018, San Sebastián Film Festival, Festival de Roterdã, Festival do Rio e Festival Mix Brasil 2018.

O média-metragem “Landlocked, da diretora brasileira Lívia Cheibub, é outro exemplo de sexo explícito que dá tesão sem violar ninguém. E é um trecho do texto de Lívia para o site Hysteria que nos mostra como o pornô pode não só ser respeitoso como ser de fato educativo: “O pornô pode, inclusive, ser uma ferramenta para que as pessoas aprendam as regras do consentimento e para que a conversa sobre sexo se estenda depois do ‘sim’. É preciso falar sobre a capacidade e o direito da mulher em sentir prazer –com ou sem um pau envolvido”. 

Porque, se aprendemos o que é facefuck e a louvar as novinhas com a indústria tradicional do sexo, podemos, sim, usar esta ferramenta para ensinar que pessoas gordas também gozam, mulheres também têm prazer e, claro, que é possível fazer amor diante das câmeras. Pra quem não conhece, vale a visita na rede social de sexo Make love not porn, onde casais reais de todas as idades, corpos e orientações sexuais ligam suas câmeras e jogam no mundo o sexo que deveria ser nossa meta de vida: livre, amoroso e, claro, tesudo

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“Dia do Orgulho Hétero” e a vergonha de fazer parte deste time http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/30/dia-do-orgulho-hetero-e-a-vergonha-de-fazer-parte-deste-time/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/30/dia-do-orgulho-hetero-e-a-vergonha-de-fazer-parte-deste-time/#respond Tue, 30 Jun 2020 07:00:10 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2689

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A hashtag #OrgulhoHetero passou a segunda-feira (29) em primeiro lugar nos trends do Twitter. Antes das pessoas com bom senso e disposição para argumentar com quem fala bobagem entrarem em cena e fazerem da hashtag um lugar engraçado e indignado, o que se viam eram memes e postagens com os mesmos argumentos cansados que já vimos tantas vezes. 

Não sei se o pessoal tem inveja da alegria festiva da comunidade LGBTQ+ ou se realmente tem medo de uma possível “ditadura gay”, como eles mesmos chamam. Mas, cada vez que me deparo com esse tipo de argumento, me dá uma vergonha danada da minha orientação sexual. Imagina se eu saio de mãos dadas com meu marido e alguém pensa que sou dessas? Deus me livre ser confundida com esse tipo de gente que se orgulha de ser hétero e quer um dia para celebrar o amor que só vale pra uns. 

Tem que ter muita raiva no coração e titica de galinha na cabeça pra achar que se tem Dia do Orgulho LGBTQ+ tem que ter Dia do Orgulho Hétero também. Isso parece coisa de criança mimada que acha que pode ter tudo na vida. Fora a falta de informação e leitura básica. Ninguém cria um dia do orgulho de alguma coisa porque quer. As pessoas fazem isso porque precisam, porque estão sofrendo, porque a sociedade as empurra para a sombra. Criam para ocupar espaço e brigar por respeito.

Pra quem não sabe, o Dia do Orgulho LGBTQ+ foi inventado para marcar um episódio de perseguição à comunidade em Nova York. Foi a necessidade que puxou a celebração. O grito era por um basta à repetida violência policial contra gays, lésbicas e transexuais que frequentavam o bar Stonewall Inn, com ápice no dia 28 de junho de 1969.

A primeira parada do orgulho LGBTQ+ aconteceu em Nova York no ano seguinte. E ainda se faz necessária porque, nesses 50 anos, não conseguimos (enquanto sociedade) tratar as pessoas de forma igualitária. Se aqui no Brasil vemos mulheres trans e casais homoafetivos serem agredidos e assassinados nas ruas, em alguns locais da África e da Rússia leis que criminalizam o ativismo e os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo seguem existindo. Ou seja, ainda não conseguimos.

Agora pensemos porque raios a gente precisa do tal Dia do Orgulho Hétero? Vamos rememorar aqui os argumentos de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara e autor de dois infelizes projetos neste tema –um para criar o tal dia e outro para criminalizar o preconceito contra heterossexuais. Segundo Cunha, em 2015, a ideia era “resguardar direitos e garantias aos heterossexuais de se manifestarem e terem a prerrogativa de se orgulharem do mesmo e não serem discriminados por isso”. 

Mas, gente, vocês já viram hétero ser retirado de restaurante? Já viram alguém olhar feio porque um casal hétero estava se beijando no mercado? Já viram alguém esconder da família que é hétero por medo de ser posto pra fora de casa? Isso me lembrou uma esquete do canal DR Oficial. Ali, numa realidade invertida, héteros passam por tudo que os LGBTQ+ passaram e passam até hoje. Pois os argumentos que sustentam essa ideia sempre me lembram esse vídeo. 

E, pra gente não achar que essa ideia é nova (de 2015 pra cá), vale lembrar que em 2005 o então prefeito de São Paulo Gilberto Kassab vetou o projeto de lei  294/2005, do vereador Carlos Apolinário (DEM), que instituía na cidade o Dia do Orgulho Heterossexual. Sim, o projeto tinha sido aprovado pela Câmara Municipal. 

Tendo em vista a insistente repetição dessa ideia, só me ocorre que os héteros têm mesmo é inveja das festividades LGBTQ+. Deve ser difícil ver tanta gente se amando de verdade e celebrando o amor e não poder se juntar por medo de… medo de quê mesmo? De virar purpurina? De dar uma fraquejada? De viver num mundo onde se amar é mais importante do que agradar os outros?

Vergonha de ser hétero define. 

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Volta às aulas em setembro: Estamos preparados? Claro que não http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/25/volta-as-aulas-neurose-do-retorno-nas-criancas-preocupa-mais-que-defasagem/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/25/volta-as-aulas-neurose-do-retorno-nas-criancas-preocupa-mais-que-defasagem/#respond Thu, 25 Jun 2020 07:00:11 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2675

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O governo de São Paulo anunciou ontem que o retorno às aulas presenciais deve acontecer no dia 8 de setembro e com até 35% de sua capacidade total. Existem vários senões: para que esse plano aconteça, precisamos que todas as cidades do estado estejam na fase 3 (amarela) do plano de flexibilização da economia (o Plano São Paulo) por pelo menos 28 dias. E, além do rodízio de alunos que possibilitará a escola atender apenas um terço de seu contingente diariamente, medidas que garantam o distanciamento das crianças e também o uso de máscaras durante todo o período serão obrigatórias.

Para atender às exigências do Estado, muitas escolas terão um rodízio em que cada aluno vai uma única vez ao prédio físico durante a semana. Ou seja, seguiremos com as aulas online e lições pra fazer em casa, só que agora somaremos à nossa rotina uma certa tensão para manter as crianças na linha se protegendo contra a disseminação da covid.

Estamos preparados? Claro que não. Os grupos de WhatsApp dos pais e mães estão em polvorosa. Todo mundo quer saber como e quando a sua escola vai funcionar. E, acreditem, vai ter muita diferença entre uma e outra.

É curioso ver que muitos dos que, num primeiro momento, estavam indignados com a necessidade de fazer “homeschooling” agora estão vociferando contra esse anúncio de retorno na mesma semana em que vimos um recorde de mortes e contágio. A indignação é justa.

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O sentimento de luz no fim do túnel se mistura com o desespero de estar no túnel. A necessidade de tirar as crianças de casa se mistura com o medo de botar a doença pra dentro de nossos lares e, claro, o medo do que esse nosso medo pode fazer com nossos pequenos. 

Até agora, a maioria das crianças foi poupada da neurose do álcool gel. Muitos de nossos filhos privilegiados não precisaram botar o nariz pra fora da porta nos últimos cem dias e, mesmo assim, alguns deles já deixam transparecer uma ansiedade, efeito primário de quem vive um momento de exceção.

Vemos crianças com medo excessivo da morte, crianças que não conseguem levantar da cama de tanto desânimo com a rotina trancada, crianças neuróticas com o lavar das mãos e algumas com pavor de qualquer ser humano que se aproxime.

Por esse motivo, me preocupa muito mais o efeito desse retorno nas crianças do que a possível defasagem que a pandemia vai causar. Vai ser preciso muito equilíbrio e meditação para que consigamos ensinar medidas importantes de proteção –e que na escola fica muito mais na mão deles– sem dar mais responsabilidade do que eles podem carregar ou transferir pra eles nossas ansiedades e pavores. 

Mas esse tipo de questão não está no plano do governo do Estado e é exatamente por isso que, se pudesse escolher, muita gente preferiria ficar no esquema atual de escola à distância até o fim do ano. Pensando do ponto de vista dos responsáveis, escola uma vez por semana não alivia em nada a rotina em casa, só agrega mais uma demanda e muitas preocupações na nossa já ultra-sobrecarregada vida pandêmica. Pensando do ponto de vista das crianças, talvez, sair de casa uma vez por semana, ver os amigos e voltar ao convívio social seja extremamente benéfico para seus cérebros e saúde mental ainda em formação. 

Não tem resposta fácil, principalmente quando vemos que os modelos matemáticos (como este da FGV) e algumas pesquisas contestam a reabertura e pintam um cenário catastrófico no segundo semestre. Uma coisa é certa: entre a cruz e a caldeirinha, entre a gripezinha e os mais de 50 mil mortos, entre o Atila e o Doria, estamos nós e nossos filhos desesperados para sair de casa e, ao mesmo tempo, desesperados com a possibilidade de sair de casa. 

A volta da escola de forma parcial e ainda com taxa de contágio crescente vai exigir muita paciência, boa vontade, respeito e senso ético de todos nós. Vai exigir também que entendamos a dimensão de tudo que está acontecendo e que, talvez, neste momento, o aprendizado não seja aquele que está nas apostilas ou nos livros. E, sim, isso também importa.

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Caso Madeleine e o medo de que nossos filhos desapareçam http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/caso-madeleine-e-o-medo-de-que-nossos-filhos-desaparecam/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/23/caso-madeleine-e-o-medo-de-que-nossos-filhos-desaparecam/#respond Tue, 23 Jun 2020 07:00:55 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2666

Madeleine McCann (PA MEDIA)

Existem dois tipos de gente: aqueles que leem e assistem a cada detalhe sobre o desaparecimento da menina britânica em Portugal, em 2007, e aqueles que evitam ter qualquer contato com as notícias que envolvem o caso. Mas uma coisa esses dois grupos têm em comum: o pânico de que seus filhos (futuros filhos, sobrinhos, afilhados ou netos) desapareçam.

O primeiro grupo quer todos os detalhes com o intuito de se precaver, e o segundo não quer pensar sobre o assunto para não lidar com o fato de que (sim) somos responsáveis por esses pequenos seres humanos. É fundamental lembrar que nenhum dos dois está livre do problema. E a ideia aqui não é culpabilizar os pais, mas, sim, falar do medo que habita todos nós.

Quando Madeleine McCann desapareceu no dia 3 de maio de 2007 e a notícia correu o mundo, pais, mães e responsáveis engoliram seco e a dor solidária se misturou ao sentimento tão egoísta quanto humano de alívio: “ainda bem que não foi comigo”. Daquele dia em diante, quem costumava deixar crianças circularem sozinhas por hotéis, shoppings e afins passou a pensar cem vezes antes de repetir o ato.

Todos nós julgamos os pais da menina, todos nós tivemos pesadelo com o assunto e todos nós tivemos aguçado o tal medo do desaparecimento. O sentimento de “eu não quero ser essa família” nos invadiu e o receio instintivo de perder um filho ganhou uma materialidade indigesta e globalizada.  

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Ninguém nunca esqueceu Madeleine. Até porque o caso não foi encerrado, a imprensa nunca deixou de cobrir o assunto e existe um seriado documental de oito de episódios (que poderia ser um filme de duas horas) que não nos deixam dormir em paz. 

Onde estará a garota que hoje teria 17 anos? Estaria ela viva? Quem a sequestrou? E como alguém tira uma criança de um hotel sem ser visto? 

Pois agora, 13 anos depois, a polícia parece estar perto da resposta definitiva, e Madeleine, com sua carinha fofa e sua manchinha no olho direito, volta a nos cutucar nas homes dos principais portais. O assunto voltou para as rodinhas, agora encontros no Zoom, e o medo e suas providências bizarras nos rondam novamente.

    Engravidei do meu primeiro filho um ano depois do desaparecimento de Maddie. E, ainda com ele na barriga, eu me pegava pensando nas situações mais propícias para o sequestro de uma criança. Fiz o pai dele jurar que não o perderia de vista na maternidade nem por um minuto.

    Quatro anos depois, num piscar, ele se desprendeu da minha mão e sumiu pelos corredores de um hipermercado. Primeiro, eu quase desmaiei, depois pensei que cada minuto era valioso e saí gritando para constranger um possível sequestrador de aproveitar a deixa e levar a criança.

    Soei absolutamente louca ao berrar que o menino de cabelo preto e casaco branco era meu filho e se outra pessoa estivesse com ele era sequestro. Pedi desculpas ao rapaz que o trouxe até mim longos dez minutos depois e ouvi de volta um: “Preocupa não, eu faria a mesma coisa”. 

    Foi esse mesmo medo que fez com que meu marido colocasse nossas duas bebezinhas, então com cinco meses e em suas cadeirinhas do carro, sob um temporal para não deixar uma delas dentro do táxi enquanto levava a outra no guarda-chuva até o toldo de casa, a parcos três metros. “E se o taxista arrancasse com o carro levando a bebê?”. Uma gripe com certeza seria melhor do que isso.

    Olhando de fora, pode parecer paranoia, mas Madeleine está entre nós, assim como milhares de outras crianças que desapareceram em situações absolutamente rotineiras. Estima-se que cerca de 50 mil crianças desaparecem por ano no Brasil, isso dá uma média de oito casos por hora. Não é um medo à toa. Eu diria que é quase um instinto de sobrevivência. 

    É o frio na espinha que nos faz apertar forte o bracinho em público mesmo quando a criança pede pra soltar. É o medo de ser uma dessas mães que buscam seus filhos por anos sem ter uma resposta que nos coloca nesse lugar muitas vezes difícil de ser entendido. Não temos como evitar, mas queremos loucamente não entrar para essa estatística. 

    Sabemos que, na maioria das vezes que as crianças desaparecem, elas não estão com os pais. Sabemos que a responsabilidade pelo desaparecimento não é de quem teve seu filho sequestrado, mas o medo é o que mexe conosco. 

    Enterrar um filho é uma das dores mais agudas que podemos ter, mas procurar por ele incessantemente sem saber se está vivo é muito pior. É aqui que a paranoia e a precaução se encontram na difícil missão de não surtar.

    Errata: diferentemente do publicado anteriormente, Madeleine é britânica.

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    O que o aumento na procura por divórcio durante a pandemia diz sobre nós http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/18/o-que-o-aumento-na-procura-por-divorcio-durante-a-pandemia-diz-sobre-nos/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/18/o-que-o-aumento-na-procura-por-divorcio-durante-a-pandemia-diz-sobre-nos/#respond Thu, 18 Jun 2020 07:00:39 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2657

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    Verdade seja dita, a quarentena não trouxe nenhum problema novo para os casais, mas acentuou discórdias, desavenças e brigas que já eram tradicionais dentro de casa. Só que agora o desamor ganhou luz, a falta de sintonia foi amplificada e até pequenas queixas, como a roupa jogada pela casa ou o desleixo com a arrumação, ganharam corpo e ficaram impossíveis de engolir.

    Não é à toa que algumas pessoas têm brincado com a expressão: “se a quarentena não implodiu, nada mais separa”. Sabemos que isso não é verdade quando estamos falando em casamento, mas vale a piada. Porque ficar isolado com a família aumenta a intensidade dos problemas existentes. 

    Fato é que a busca por escritórios especializados em divórcio cresceu 177% se comparada com o mesmo período do ano anterior. E tem dado mais impactante: segundo um levantamento do Google, a pesquisa por “divórcio online gratuito” cresceu quase 10 mil % (sim, 10 mil porcento). 

    Logo vemos que a turma quer mesmo se separar –e é agora, é já e é aqui mesmo de dentro de casa, durante a pandemia e sem grana pro advogado. Seria cômico se fosse um seriado da Netflix escrito pela Phoebe Waller-Bridge. Mas, no nosso caso, é só triste mesmo. 

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    O pico da procura por divórcio num momento de tanta incerteza e no qual precisamos mais do que nunca uns dos outros (psicológica e financeiramente) mostra o quanto nossos casamentos estão sendo empurrados com a barriga e o quanto negligenciamos conversas mais profundas. Mostra que tem muita gente esquecendo de se perguntar: quem somos nós e pra onde vamos?

    Sempre digo que a vida a dois é maravilhosa e acredito nisso de verdade. Mas não é qualquer vida a dois. E, para deixar o casamento gostoso, transparente e sólido, não basta um buquê de flores aqui e uma trepadinha ali. Manter um casamento feliz dá trabalho.

    Todavia, manter um casamento infeliz dá muito mais dor de cabeça. E é isso que a quarentena escancarou. Casamento infeliz só serve se a gente passa a maior parte do tempo fora de casa, longe do outro e fingindo que há muitas coisas mais importantes pra fazer do que olhar para o que chamamos de nós com carinho e sinceridade. 

    Muita gente acha que conversar demais quebra o clima e não são poucos os casais que realmente não têm tempo pra isso. Rotina de trabalho puxada, horários que não batem, demanda dos filhos, dos pets, dos pais. Mas, assim como a gente arruma tempo pra encontrar a pessoa quando está apaixonado, é preciso arrumar espaço para conversas que coloquem os problemas na mesa. 

    E toda conversa leva à separação? Claro que não. A meta é justamente o contrário. A ideia de colocar nossos incômodos, as queixas e as insatisfações é resolver questões ao invés de empurrar a coisa pra baixo do tapete, lugar onde elas crescem, emboloram e ganham contornos terríveis. 

    E, vejam, não estou dizendo que é pra ficar botando na mesa do jantar cada coisinha que a gente sente. As coisas precisam ser digeridas antes de serem ditas, mas, constatada a reincidência de sentimentos ruins, é preciso falar. 

    E falar não é vociferar. Gosto de pensar os problemas de casal como códigos que precisam ser traduzidos pro outro. Porque o problema é nosso, mas a queixa é de um dos dois. 

    Parece trabalhoso demais? Então talvez o amor dessa dupla tenha acabado mesmo.

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    O novo normal do WhatsApp pode ser o fim da nossa saúde mental http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/16/o-novo-normal-do-whatsapp-pode-ser-o-fim-da-nossa-saude-mental/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/16/o-novo-normal-do-whatsapp-pode-ser-o-fim-da-nossa-saude-mental/#respond Tue, 16 Jun 2020 07:00:03 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2647

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    Vocês já experimentaram passar um período inteiro sem olhar as mensagens do zap? Pois tentem. O que deve acontecer com a maioria dos seres humanos depois de quatro horas fora dessa rede é que precisarão de um bom tempo para ler e responder tudo que chegou e foi se acumulando por ali. Talvez quatro horas.

    Sim: em tempos de pandemia, quarentena, home office, homeschooling, crise política, fake news e requintes de crueldade, o zap virou o canal oficial de um monte de coisas que vão das compras no mercadinho ao drink com as amigas. É por ele que chegam as dúvidas de como entrar no encontro do Zoom da escola e as promoções imperdíveis das mais diversas marcas que, um dia, anotaram seu telefone.

    Tendo isso em vista, se no novo normal essa intensidade não aliviar, estamos perdidos. Adeus foco e adeus saúde mental.

    A galera já nem se constrange de mandar áudio de cinco minutos. Os chefes já nem pedem desculpa por escrever fora de hora. As amigas que estão trocando a noite pelo dia não pensam duas vezes antes de mandar o link do polêmico vazamento que mobilizou as redes no meio da madrugada. Isso sem contar os grupos dos pais da classe, onde a gente pisca e pronto: tem 97 mensagens não lidas.

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    Pelo amor de Deus: para que eu quero descer! E olha que eu amo o whats e meu recado fixado é “usuária de áudio”. Pausa para este adendo: gente, áudio do zap é vida, áudio do zap é amor. É expressão artística, é tom de voz, é lágrima e confidência. Áudio do zap é o telefonema que nunca te pega num momento ruim, porque você só escuta quando pode.

    Pois mesmo adorando as funções dessa ferramenta, confesso que o excesso de demandas que entram por ela tem me assustado. Verdade que boa parte são figurinhas e stickers dos quais metade a gente podia ter passado sem, mas, como para fazer esse filtro precisa entrar e olhar, passamos o dia clicando no telefoninho verde, lendo, ouvindo, respondendo, encaminhando. 

    O uso está tão intenso que não são poucos os relatos de gente que está com a tela quebrada ou o telefone avariado devido às inevitáveis quedas. Porque não tem segredo: quanto mais usa, mais cai, não é mesmo?

    Eu fico pensando como vivem e do que se alimentam os habitantes de países onde o WhatsApp “não pegou”. Nossa vida passa tanto por esta ferramenta que não conseguimos nem imaginar como seria viver sem ela. Mas imaginar a vida afogado nela também não me parece um cenário muito bom. Oxalá o novo normal seja caridoso conosco neste tópico.

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    Japinha do CPM22 e a infame cultura das novinhas http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/11/japinha-do-cpm22-e-a-infame-cultura-das-novinhas/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/11/japinha-do-cpm22-e-a-infame-cultura-das-novinhas/#respond Thu, 11 Jun 2020 07:00:34 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2635

    Japinha, do CPM 22 (Imagem: Cláudio Augusto/Brazil News)

    Há oito anos, Japinha, baterista da banda CPM 22, flertou com uma menina de 16 anos. Eles nunca se encontraram, mas os prints da conversa foram vazados agora. Ali, vemos uma (tradicional) paquera entre fã e ídolo, vemos que o baterista achava que a garota tinha 18 anos, e ela contar que na verdade tinha 16. E, então, vemos ele responder: “Já namorou muito tempo? Já fez amor?”. E, ao que ela responde que é virgem, ele rebate: “Que linda. Assim eu me apaixono”. 

    Não estamos aqui para julgar Japinha. Até porque ele está lidando com as consequências de seus atos: foi rapidamente afastado da banda, está aguentando um doloroso cancelamento virtual e –importante– a lei está do seu lado. Também não estou aqui para analisar seu caso colocando em perspectiva a relação de Caetano Veloso e Paula Lavigne ou de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, ambos casais sólidos citados por ele como exemplo de relações que começaram enquanto as mulheres ainda eram adolescentes. 

    Mas achei essa uma ótima oportunidade pra gente falar da “cultura das novinhas”. 

    Poderíamos falar aqui da falta de criatividade de uma sociedade que impõe a juventude às mulheres. Poderíamos falar da desvalorização da experiência e da maturidade, mas, infelizmente, esses assuntos ficam pequenos quando nosso flerte com o viço e a ingenuidade tem cunho sexual. Por que sabe o que mora nessa mesma página? O abuso infantil. E isso deixa todo o resto desimportante.

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    Sei que estamos falando aqui de um cara que trocou mensagens com uma menina de 16 anos, nem transou com ela e foi tudo consentido. E, por isso, reafirmo que o ponto não é o caso do Japinha em si. Mas, veja, quando ele diz “assim eu me apaixono” ao saber que a garota é virgem, está desenhando o estereótipo dessa cultura cada vez mais vívida em nosso país. E ela está nos funks (aos montes), nos filmes pornôs em que mulheres usam uniformes colegiais e em novelas e filmes em que homens não se controlam ao ver uma adolescente.

    É exatamente assim que vamos dando corpo à cultura e transformando meninas cada vez mais novas em mulheres foco do desejo masculino, vamos sexualizando garotas que muitas vezes ainda não têm malícia e nos fixando neste lugar desconfortável. 

    Você não acha desconfortável? Pois deveria. Como bem mostra o filme “Um Crime Entre Nós, estamos em segundo lugar no ranking de países com maior número de ocorrências de exploração sexual infantil (Freedom Fund).  Produzido pela Maria Farinha Filmes e pelos institutos Liberta e Alana, o longa-metragem apresenta dados e entrevistas e trata da naturalização dos crimes sexuais contra crianças e adolescentes. E deixa bem claro como essa cultura nos leva para um lugar nefasto. Este é o fim da linha. É onde qualquer defesa cai por terra e precisamos lidar com a indigesta realidade em que crianças estão sendo exploradas e abusadas para satisfazer aqueles que “curtem uma novinha”. 

    Japinha cometeu um crime? Não. A lei brasileira é clara ao dizer que, a partir de 14 anos, se a relação for consentida, está dentro da legalidade. Mas seu escárnio em praça pública pode ser muito útil para trazer para a mesa aonde essa cultura das novinhas nos leva.

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    Gordofobia: Vídeos preconceituosos fazem mais mal às crianças do que bala http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/09/gordofobia-videos-preconceituosos-fazem-mais-mal-as-criancas-do-que-bala/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/09/gordofobia-videos-preconceituosos-fazem-mais-mal-as-criancas-do-que-bala/#respond Tue, 09 Jun 2020 07:00:33 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2627

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    Nutrição digital: o problema não é ser gordo é propagar a gordofobia

    Fui apresentada ao termo “nutrição digital” pela minha amiga psicóloga e educadora parental Mariana Costa. Achei muito interessante e, hoje, pra falar de obesidade, ele vem bem a calhar. Nutrição digital é tudo aquilo que a gente consome na internet e o efeito desse conteúdo em nós. Se “responsabilidade digital” é cuidar do que a gente posta (principalmente quem tem muitos seguidores), nutrição é cuidar do que a gente consome.

    Pois, da mesma forma com que nos preocupamos com o que entra pela boca dos nossos filhos, precisamos nos preocupar com o que entra por wifi. Com o desafio de que o que vem pela internet é bem mais complexo e cheio de pegadinhas. E é nos canais ditos infantis onde mais vemos esse tipo de conteúdo traiçoeiro.

    Numa olhada rápida e genérica, muitos dos vídeos podem parecer apenas bobos e inofensivos, mas, com um mergulho mais profundo, vemos que há muita coisa ali bem questionável. Conceitos deturpados, exposição exagerada de crianças e preconceitos dos mais variados tipos sendo vomitados de forma natural. E sabe o que acontece quando as crianças assistem a conteúdos que naturalizam preconceitos? Eles os absorvem de forma orgânica e, em pouco tempo, começam a reproduzi-los. É assim com conteúdos homofóbicos e gordofóbicos. 

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    Por causa de uma forte luta LGBTQ+, os homofóbicos têm se resumido a piadinhas rápidas e expressões que (ainda) teimam em aparecer na boca dos neomachinhos. Mas com o conteúdo gordofóbico o buraco é bem mais embaixo: existem vídeos inteiros que depreciam, tiram sarro e fazem caricaturas grotescas sendo reproduzidos como se isso fosse muito normal. 

    São vídeos como esse da Maria Clara & JP, por exemplo, que tratam o gordo como burro, bobo, preguiçoso e que “só faz abdominal se for para alcançar um donut imaginário”. Tudo no vídeo é bizarro, inclusive o fato de o menino se entupir de comida na frente da televisão e emagrecer em poucos minutos de “exercício” com a irmã, que fica na posição da magra salvadora e ainda tira sarro dele o tempo todo. 

    Tenho certeza de que o vídeo não foi feito na maldade, e a intenção de conscientização existiu em algum momento, mas o resultado não só não esclarece a real importância de se alimentar de forma saudável e ser ativo, como estimula de forma aguda que as crianças tenham preconceito com pessoas gordas. Além disso, cria um pânico em torno dos hábitos alimentares que não é compatível com a idade das crianças em questão. 

    Outro exemplo de péssima influência tem mais de um milhão de visualizações no YouTube e está no canal Laurinha e Helena – Clubinho da Laura. Ali, é a mãe que se entope de forma caricata de comidas industrializadas sendo socorrida pela filha para aprender a “ser saudável”.

    Um filtro horroroso é usado para retratar a mãe quando está gorda e seu choro reclamando da barriga inchada pela almofada e dizendo “ela me avisou” coloca mais uma vez as pessoas gordas como burras e as magras como salvadoras. Mais uma vez conceitos como “doce faz mal” são propagados ao léu. Vejam, não é porque falamos as coisas em tom de brincadeira que seus problemas desaparecem. Ao contrário, a coisa pode ficar ainda pior! 

    É muita desinformação tachar os doces como vilões. É muita desinformação dizer “será que vou voltar ao normal?”. Por favor, defina normal. E, neste caso, ainda vai mais longe: depois de se entupir de tudo que é coisa, a mãe é “obrigada” a comer frutas! Gente, fruta faz super bem, mas em cima de um monte de comida, não, tá? Fora que acaba trazendo o conceito de que o saudável é remédio, algo que descabela até os estudantes de nutrição do primeiro ano. 

    E, assim, dando risada e fazendo piadinha, nossos filhos vão sendo alimentados com um conteúdo preconceituoso que em nada ajuda a formação dos cidadãos conscientes que tanto queremos que eles sejam. 

    Fazer conteúdo infantil nunca foi simples. Nos tradicionais canais de televisão, isso sempre envolveu uma equipe especializada além dos profissionais de criação. Mas, de repente, nossos filhos estão sendo nutridos por conteúdos irresponsáveis e extremamente superficiais feitos por crianças ou famílias sem pedagogia nenhuma e, pior, muitas vezes detentoras de posições educacionais, políticas e éticas bem duvidosas.

    Se você é do tipo que não deixa seus filhos se “entupirem de doce”, mas esquece de monitorar o tablet, fique atento. Eles podem estar se entupindo de vídeos que fazem muito mais mal do que um saco de bala. 

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    A pantera se foi, mas seu tapa precisa permanecer em nós http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/a-pantera-se-foi-mas-seu-tapa-permanece-em-nos/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/04/a-pantera-se-foi-mas-seu-tapa-permanece-em-nos/#respond Thu, 04 Jun 2020 07:00:58 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2613

    Trecho do curta “Tapa na Pantera”

    Ontem morreu, aos 85 anos, Maria Alice Vergueiro, uma das mais importantes atrizes de teatro do Brasil e talvez a única que, aos 70 anos, saltou do underground dos palcos para o mainstream da internet. Era 2006 e estamos falando de um recém-chegado site de compartilhamento de vídeos chamado YouTube.

    Maria Alice foi a protagonista do curta “Tapa na Pantera, onde, em três minutos, faz uma ode à maconha. Dirigido pelo então (muito) jovem Esmir Filho e seus comparsas, Mariana Bastos e Rafael Gomes, o filmete despretensioso se tornou um dos primeiros virais brasileiros. Naquele tempo, a gente nem usava a palavra “viral” e muitos assistiram ao curta se questionando se era encenação ou realidade.

    O próprio Esmir não tinha certeza de até onde iria a fama do curta. “A internet é efêmera, pode ser que daqui a um mês ninguém saiba o que é o tapa na pantera”, disse o diretor em uma entrevista ainda em 2006. Mal sabia ele.

    De repente, aquela tão respeitada como porra louca atriz foi catapultada para uma fama à qual nenhum de seus diversos prêmios à levou –hoje o vídeo tem mais de 8 milhões de views e ainda diverte jovens país afora. Em entrevista ao canal Vírgula, Maria Alice contou que foi o sucesso na internet que a fez comprar um computador.

    Reconhecida na rua, ela passou anos batendo papo com jovens que haviam recém-descoberto seu vídeo. Claro, sempre tem uma nova geração para descobrir o que a internet eterniza. E, apesar do monotema que por vezes parecia diminuir a atriz, ela estava colhendo ali o fruto da semente que sempre plantou: “Adoro estar entre a moçada”, disse em entrevista a Artur Veríssimo em 2016 num programa chamado Bem Bolado, que falava (claro) sobre maconha e adjacências. 

    Maria Alice sempre foi jovem, sempre foi livre e é muito inspirador que um dos primeiros virais da nossa história seja dela e seja sobre “puxar um fuminho”. Anti-caretice, essa senhora sempre muito articulada e cheia de referências deixou pra nós muito mais do que uma mera esquete. Ela deixou também a inspiração para uma vida divertida e sincera.

    Deixou a certeza de que já fomos menos podados e a lembrança indelével de que já vivemos momentos mais leves, onde ainda não existiam cancelamentos virtuais e a patrulha da bíblia só chegava pela porta da frente, tocando a campainha. Um tempo onde a internet era bem mais ingênua, e fake era sinônimo de uma simples encenação. 

    Mas o que importa agora é o legado e, vamos combinar, tapa mesmo é marcar a história da nossa internet com um viral sobre maconha. O resto é larica pra boi dormir. 

    Guardemos, sim, as lembranças da grande atriz, como bem conta Mauricio Stycer, mas zelemos para que o tapa de Maria Alice conste também da história da maconha no Brasil, no dia em que qualquer um possa soltar sua pantera como e onde quiser. Ofereçamos a primeira gargalhada desses novos tempos (oxalá logo) a ela.

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    Você já ouviu falar nos solteiros monogâmicos? http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/02/voce-ja-ouviu-falar-nos-solteiros-monogamicos/ http://liabock.blogosfera.uol.com.br/2020/06/02/voce-ja-ouviu-falar-nos-solteiros-monogamicos/#respond Tue, 02 Jun 2020 07:00:44 +0000 http://liabock.blogosfera.uol.com.br/?p=2602

    (iStock)

    Se tem uma vantagem em ser solteiro ou solteira na vida é não dever fidelidade a ninguém. Ser apenas leal aos nossos próprios princípios e fazer o que a gente bem entende dia sim, dia também. Pois é, foi lindo enquanto durou.

    Porque isso foi até março de 2020, quando a pandemia de coronavírus se aboletou entre nós, nos trancou em casa e transformou qualquer troca de fluidos em potencial risco de vida. E, assim, o que era liberdade virou uma seca danada. O que era diversidade virou uma paranoia – e haja punheta e vibrador. 

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    Pois agora, quando se começa a falar em uma possível abertura do isolamento e percebemos que ela não tem nada a ver com voltar pra vida que a gente tinha antes, os solteiros desse Brasilzão estão tendo que lidar com a dura realidade: vai demorar muito pra gente sair por aí numa beijação louca e acumulando parceiros e parceiras numa vida sexual diversificada.

    Vai ser aquela coisa: quer ver seus pais? Quinze dias de reclusão. Aniversário da bisa? Mesma coisa. Irmã está grávida? Ixi, ferrou.

    E foi assim que nessa lógica surgiram os solteiros fiéis. Essa nova categoria da humanidade que veio se contrapor aos casados desleais e fanfarrões em geral.

    Solteiro monogâmico é aquele que tem medo de contrair o vírus ou porque é grupo de risco ou porque teme pelos seus, e assim precisa amarrar sua sexualidade num poste mesmo não amarrando o dia a dia e o coração. É aquele que não consegue viver sem sexo, mas também não quer brincar de roleta-russa com perdigotos desconhecidos.

    Como vivem? Do que se alimentam? Pra onde vão esses seres resignados? No geral são pessoas que já entenderam que pra estar com a vida sexual em dia vai ser preciso muito mais do que álcool gel. Será necessário responsabilidade, ética e a aceitação (mesmo que na marra) de que melhor um passarinho na mão do que um porção voando.

    Na prática, eles escolhem uma pessoa bacana com quem gostam de transar e fecham nessa parceria por tempo indeterminado – ou até a vacina chegar. Fazem ali um trato de respeito às normas sanitárias e cuidado mútuo e mandam bala no encontro semanal (quinzenal ou mensal). 

    É totalmente seguro? Claro que não, mas com certeza é melhor do que girar a roleta e escolher uma pessoa a cada vez. E, claro, ser um solteiro monogâmico é antes de tudo ser honesto e jogar limpo com o parceiro ou parceira em questão. Acabou encontrando alguém fora do ciclo normal de mercado, farmácia, Rappi e vizinhos? É preciso avisar. E daí vale aquela medida dos 15 dias, ao infinito e além. 

    Pensando pelo lado positivo e fazendo uma previsão para um futuro não muito longínquo, pode ser divertido brincar de casal um vez a cada quinze dias. E olha a dica quicando: encontra os pais na sexta, o cônjuge no sábado e assim respectivamente na rotatividade da quinzena. Mas aí não configura namoro? De forma alguma: é só botar no contrato que o fechamento é temporário e puramente sexual.

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