Pós-Carnaval: quem não beijou não beija mais. O coronavírus está entre nós
Se pensarmos de um jeito bem positivo, podemos dizer que nesse Carnaval Deus foi brasileiro. Para isso precisamos primeiro, claro, esquecer a parte do motim policial no Ceará e apagar também o episódio em que o presidente da República repassou um vídeo pouco republicano. Tirados esses elementos, resta o coronavírus – que milagrosamente esperou a Quarta-feira de Cinzas para dar as caras por aqui.
Sorte a nossa. Veneza está lá sitiada e teve seu tradicional Carnaval de máscaras cancelado.
Aqui não: o povo pulou à vontade, se aglomerou com gosto e, claro, beijou na boca despreocupado. Até então estávamos a alguns continentes do problema em si.
Mas agora a coisa mudou de figura. Com a confirmação do primeiro caso e as muitas suspeitas que pipocam, o pós-Carnaval já será diferente. É bem provável que algumas pessoas saiam de máscara e, claro, vai ter muita gente que vai abrir mão dos blocos finais seguindo a recomendação do ministro da Saúde, que foi bem claro ao dizer que devemos evitar aglomerações. Mas, pra ficar na vibe positiva, lembro que ele disse também que é preciso mais cuidado com aeroportos e viagens do que com a multidão na rua.
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Só em São Paulo, onde o primeiro caso foi confirmado, mais de 160 blocos ainda devem sair e, como o vírus demora alguns dias para apresentar sintomas, é mais responsável evitar o contato direto com a saliva de pessoas das quais não sabemos nem o nome.
Porque o Carnaval tem dessas e isso é lindo. Quem acha que a festa é profana e seus frutos são do pecado, sou a amostra viva de que isso é balela. Encontrei meu marido no Carnaval, num bloco gigante desses de rua. Sim, tudo começou com um desses beijos descompromissados e sem muita introdução. Aliás, o último casamento ao qual estive orgulhosamente presente também foi fruto de um desses encontros carnavalescos. Festa com toda pompa, as duas noivas vestindo branco e a família emocionada ao microfone. Três anos antes, elas se esbarravam num bloquinho no centro da cidade.
Conto essas histórias pra dizer, com muito pesar, que quem beijou, beijou – e quem não beijou muito provavelmente não beija mais. Não pelo menos até o pavor, comum às chegadas de graves doenças virais, passar.
Mas, verdade seja dita, pode bem ser que, no melhor jeitinho brasileiro, a turma não se apoquente com as notícias recém-chegadas da Itália e se jogue nos blocos com a energia beijoqueira de sempre, deixando para pensar sobre o assunto quando o pós-Carnaval passar. Que Deus siga sendo brasileiro!
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
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