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Lia Bock

Xingamentos são a porta de entrada para 'drogas' mais pesadas 

Lia Bock

22/08/2019 04h00

(iStock)

A gente passa anos ensinando as crianças que não pode xingar. Põe de castigo, corta a sobremesa, explica com paciência. No trabalho, se um colega ou chefe te xinga configura assédio moral e pode dar demissão por justa causa. Aluno xingando professor ou professor xingando aluno geralmente leva a expulsão da escola.

Agora me respondam, vocês acham mesmo que no casamento deveria ser diferente?

Não vou ser nem um pouco tolerante aqui e acho que todos e todas deveriam fazer o mesmo. O xingamento é a porta de entrada para agressões mais pesadas que, em breve, darão as caras. Sim, elas virão! E é por isso que no primeiro "filha da puta" que alguém soltar é preciso parar tudo e começar uma análise minuciosa dessa relação. A ajuda de um terapeuta ou especialista pode ser bem vinda. Melhor um psicólogo quando começa do que a polícia quando acaba. 

Não tem "mas ele estava nervoso" ou "ela é estourada mesmo". Não! Xingamento é agressão verbal, é desrespeito e é o começo de uma descida vertiginosa para um lugar muito pior. O que estou querendo dizer sem meias palavras é: tenham medo de gente que xinga!

E acompanhem comigo, uma coisa é uma pessoa que fala muito palavrão. Que fala "fodeu", "puta merda", "que bosta", "caralho". Outra, bem diferente, é uma pessoa que xinga o outro pontualmente. Não misturemos as coisas! Conheço muita gente que usa bastante palavrão na sua linguagem do dia a dia, mas nunca xingou ninguém. 

Aqui estou falando especificamente de xingamentos direcionados, de agressão entre as partes de um casal. E tenham certeza, não tem nível saudável quando estamos falando de violência – mesmo que seja verbal. 

Xingamento de marido ou mulher é coisa que só pode acontecer uma vez, deve ser resolvida com a pompa que merece. E, de duas uma: ou nunca mais acontece ou um abraço e tchau. 

Precisamos treinar nossos ouvidos e mentes a se ofenderem de morte quando o cônjuge nos xinga. Precisamos interromper o ciclo de violência que se desenrola depois de um "sua filha da puta". Aliás, esse é o xingamento favorito de quem quer esmigalhar o parceiro ou parceira. 

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Sempre fico pensando porque as pessoas seguem casadas com alguém que julgam "filha da puta", que – sem entrar no mérito da junção das palavras em si –  significa ser sacana e desonesto. Não sabemos se as pessoas pensam isso mesmo ou se estavam usando o recurso apenas como forma de agressão. Mas sabemos, sim, que ambas as coisas são péssimas. Porque não existe "só estava querendo me agredir", como escutamos algumas vezes. O "só" não combina com essa frase porque agredir é uma coisa séria e precisa ser tratada como tal. 

É preciso tolerância zero com os nervozinhos e agressores afins até pra que consigamos diferenciar uma coisa da outra. Se a pessoa é estourada e soltou o xingamento de cabeça quente dá pra reverter, dá pra cuidar, tratar, policiar. Mas pra isso é preciso que fiquemos indignados, e muito. É preciso que a pessoa entenda que aquilo é grave e que não vamos tolerar. Mas, se a coisa se repete, aí meus amores, não paguem pra ver até onde isso vai. 

O casamento nem sempre é facinho ou leve e discutir, se desentender, faz parte. Mas isso não precisa envolver nenhum tipo de agressão. Não caia nessa de que "essas coisas fazem parte".

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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