A pantera se foi, mas seu tapa precisa permanecer em nós

Trecho do curta "Tapa na Pantera"
Ontem morreu, aos 85 anos, Maria Alice Vergueiro, uma das mais importantes atrizes de teatro do Brasil e talvez a única que, aos 70 anos, saltou do underground dos palcos para o mainstream da internet. Era 2006 e estamos falando de um recém-chegado site de compartilhamento de vídeos chamado YouTube.
Maria Alice foi a protagonista do curta "Tapa na Pantera", onde, em três minutos, faz uma ode à maconha. Dirigido pelo então (muito) jovem Esmir Filho e seus comparsas, Mariana Bastos e Rafael Gomes, o filmete despretensioso se tornou um dos primeiros virais brasileiros. Naquele tempo, a gente nem usava a palavra "viral" e muitos assistiram ao curta se questionando se era encenação ou realidade.
O próprio Esmir não tinha certeza de até onde iria a fama do curta. "A internet é efêmera, pode ser que daqui a um mês ninguém saiba o que é o tapa na pantera", disse o diretor em uma entrevista ainda em 2006. Mal sabia ele.
De repente, aquela tão respeitada como porra louca atriz foi catapultada para uma fama à qual nenhum de seus diversos prêmios à levou –hoje o vídeo tem mais de 8 milhões de views e ainda diverte jovens país afora. Em entrevista ao canal Vírgula, Maria Alice contou que foi o sucesso na internet que a fez comprar um computador.
Reconhecida na rua, ela passou anos batendo papo com jovens que haviam recém-descoberto seu vídeo. Claro, sempre tem uma nova geração para descobrir o que a internet eterniza. E, apesar do monotema que por vezes parecia diminuir a atriz, ela estava colhendo ali o fruto da semente que sempre plantou: "Adoro estar entre a moçada", disse em entrevista a Artur Veríssimo em 2016 num programa chamado Bem Bolado, que falava (claro) sobre maconha e adjacências.
Maria Alice sempre foi jovem, sempre foi livre e é muito inspirador que um dos primeiros virais da nossa história seja dela e seja sobre "puxar um fuminho". Anti-caretice, essa senhora sempre muito articulada e cheia de referências deixou pra nós muito mais do que uma mera esquete. Ela deixou também a inspiração para uma vida divertida e sincera.
Deixou a certeza de que já fomos menos podados e a lembrança indelével de que já vivemos momentos mais leves, onde ainda não existiam cancelamentos virtuais e a patrulha da bíblia só chegava pela porta da frente, tocando a campainha. Um tempo onde a internet era bem mais ingênua, e fake era sinônimo de uma simples encenação.
Mas o que importa agora é o legado e, vamos combinar, tapa mesmo é marcar a história da nossa internet com um viral sobre maconha. O resto é larica pra boi dormir.
Guardemos, sim, as lembranças da grande atriz, como bem conta Mauricio Stycer, mas zelemos para que o tapa de Maria Alice conste também da história da maconha no Brasil, no dia em que qualquer um possa soltar sua pantera como e onde quiser. Ofereçamos a primeira gargalhada desses novos tempos (oxalá logo) a ela.
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