Guerra de narrativa do coronavírus: fico em casa ou compro uma bicicleta?
Coronavírus bombando pelo mundo. Mais de 7 mil mortos na Itália (e subindo). Hospitais de campanha sendo construídos em estádios. O preço está congelado, mas a verdade é que não tem mais álcool gel pra comprar. "Esse vírus é o inimigo público número 1 neste momento", disse Tedros Ghebereyesus, diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde).
O Japão não fez quarentena e tem poucos mortos. O remédio vai ser pior que a doença. O presidente vai ao microfone pra desqualificar tudo que vem sendo dito por especialistas, lideranças e por seu próprio ministro da Saúde. O general que estava confinado voltou ao trabalho na mesma hora.
O governador do Rio de Janeiro mandou fechar. O prefeito do Rio de Janeiro mandou abrir.
Tudo que a gente queria era uma liderança sólida que nos guiasse por um caminho sensato. Se não o melhor, ao menos um caminho possível que poupasse a maior quantidade de vidas e não nos jogasse na miséria completa. É pedir muito?
Mas, em vez disso, estamos vivendo uma guerra de narrativas.
Uma pandemia dessa escala pede uma organização que o Brasil de Bolsonaro está mostrando não ter. A surpresa e força com que o coronavírus chegou pede ações certeiras que o país, que não taxa grandes fortunas, está mostrando ser incapaz de fazer.
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Enquanto os meninos de gravata se alfinetam via Twitter, lives e eternas entrevistas coletivas, o brasileiro não sabe se usa máscara ou compra uma bicicleta.
Seria deprimente se não fosse desesperador.
Deixar a decisão de fazer quarentena ou não na mão das pessoas e empresas é uma temeridade. Não estamos falando de feriado facultativo – estamos lidando com vidas, medos e diferenças gigantescas de acesso a médicos, a saneamento básico e planos de saúde.
É claro que o dono de grandes negócios quer que todo mundo volte a trabalhar. Dificilmente ele estará entre os que se acotovelam para usar um respirador. Aliás, vocês repararam que só os políticos têm confirmação para coronavírus? Sim, porque só eles conseguem fazer o teste sem estar à beira da morte. Para nós, restantes dos mortais, os testes estão ultracontrolados e só são feitos em quem precisa de internação. Estamos aqui com dor de cabeça e falta de ar lidando com a dúvida de se é coronavírus ou tensão com os notícias que vêm de Brasília, enquanto eles estão lá, batalhando em meio a suas provas e contraprovas com resultado que sai no dia seguinte.
Dá uma sensação de que somos espectadores da nossa própria desgraça, não dá? Somos os confinados de um jogo chamado Brasil, onde a sorte está lançada e pagaremos com a vida a descoordenação daqueles a quem deveríamos chamar de líderes.
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