Topo

Lia Bock

A sororidade morre quando a desonestidade aparece

Lia Bock

31/10/2019 04h00

(iStock)

Desde que a palavra sororidade entrou em nossas vidas há alguns anos, a gente vem pensando sobre mulheres se apoiando e tendo mais empatia umas com as outras.

E isso é muito importante num mundo que sempre pregou a competição, que sempre estimulou concursos, desafios e colocou as mulheres umas contra as outras (mesmo que nas pequenas coisas). Falar de  sororidade é falar de vida na coletividade, de ajuda mútua, de pessoas pensando as relações como forma de potencializar a sociedade e consequentemente nós mesmas.

Sempre me lembro daquele texto em que o Rubem Alves fala de casamentos frescobol versus casamentos tênis e trago a mesma lógica para todas a relações humanas: num a gente joga contra e no outro a gente joga junto – neste segundo o erro de um é a derrota de todos. Trazer a lógica do frescobol pras nossas vidas é sempre bom.

Mas tem gente que confunde se apoiar mutuamente com perdão a qualquer custo. E uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Precisamos ter em mente que a sororidade termina quando entra a desonestidade.

Quando alguém, independentemente do gênero, sacaneia a gente, saímos do terreno da irmandade para adentrar as águas cinzentas da escrotidão. E nesse lugar valem as regras da oposição. Tipo: acabou o frescobol porque seu parceiro ou parceira roubou a bolinha, saca?

Nessa hora, meus amigos, a palavra sororidade sai totalmente de cena. Não cabe nem em piadinha. Porque a gente não dá as mãos pra quem puxou nosso tapete, certo? Também não damos as mãos pra quem está nos processando na Justiça e por aí vai.

É muito importante esclarecer isso principalmente pra aqueles que acham que ter sororidade é ser a Madre Teresa. Não é. Algumas de nós podem até ser superiores e conseguir, de fato, exercer esse perdão benevolente, mas isso não tem nada a ver com ter sororidade.

Tomemos o caso Ludmilla e Anitta como exemplo. Podem ter faltado muitas coisas na relação das duas artistas, inclusive honestidade, mas sororidade não tem nada a ver com a história. 

E onde a sororidade se aplica? Um exemplo claro: quando uma mulher declina da paquera de um rapaz por quem estava interessada ao descobrir que ele é casado. Ela poderia até topar a confusão, mas como não gostaria de estar no lugar da outra, escolhe não se envolver. Outro exemplo: quando, mesmo tendo muitos caras à disposição, mulheres optam por fazer parcerias profissionais com outras mulheres.

Mas tenham em mente, assim que uma pessoa passa a fronteira da dignidade e da sinceridade, a sororidade se liquefaz e morre sob os escombros da desonestidade humana.  

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

Blog da Lia Bock