A sororidade morre quando a desonestidade aparece
Desde que a palavra sororidade entrou em nossas vidas há alguns anos, a gente vem pensando sobre mulheres se apoiando e tendo mais empatia umas com as outras.
E isso é muito importante num mundo que sempre pregou a competição, que sempre estimulou concursos, desafios e colocou as mulheres umas contra as outras (mesmo que nas pequenas coisas). Falar de sororidade é falar de vida na coletividade, de ajuda mútua, de pessoas pensando as relações como forma de potencializar a sociedade e consequentemente nós mesmas.
Sempre me lembro daquele texto em que o Rubem Alves fala de casamentos frescobol versus casamentos tênis e trago a mesma lógica para todas a relações humanas: num a gente joga contra e no outro a gente joga junto – neste segundo o erro de um é a derrota de todos. Trazer a lógica do frescobol pras nossas vidas é sempre bom.
Mas tem gente que confunde se apoiar mutuamente com perdão a qualquer custo. E uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Precisamos ter em mente que a sororidade termina quando entra a desonestidade.
Quando alguém, independentemente do gênero, sacaneia a gente, saímos do terreno da irmandade para adentrar as águas cinzentas da escrotidão. E nesse lugar valem as regras da oposição. Tipo: acabou o frescobol porque seu parceiro ou parceira roubou a bolinha, saca?
Nessa hora, meus amigos, a palavra sororidade sai totalmente de cena. Não cabe nem em piadinha. Porque a gente não dá as mãos pra quem puxou nosso tapete, certo? Também não damos as mãos pra quem está nos processando na Justiça e por aí vai.
É muito importante esclarecer isso principalmente pra aqueles que acham que ter sororidade é ser a Madre Teresa. Não é. Algumas de nós podem até ser superiores e conseguir, de fato, exercer esse perdão benevolente, mas isso não tem nada a ver com ter sororidade.
Tomemos o caso Ludmilla e Anitta como exemplo. Podem ter faltado muitas coisas na relação das duas artistas, inclusive honestidade, mas sororidade não tem nada a ver com a história.
E onde a sororidade se aplica? Um exemplo claro: quando uma mulher declina da paquera de um rapaz por quem estava interessada ao descobrir que ele é casado. Ela poderia até topar a confusão, mas como não gostaria de estar no lugar da outra, escolhe não se envolver. Outro exemplo: quando, mesmo tendo muitos caras à disposição, mulheres optam por fazer parcerias profissionais com outras mulheres.
Mas tenham em mente, assim que uma pessoa passa a fronteira da dignidade e da sinceridade, a sororidade se liquefaz e morre sob os escombros da desonestidade humana.
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