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Lia Bock

Escolho o casamento aberto. Mas só pra mim

Lia Bock

23/07/2019 04h43

(istock)

Quando as pessoas falam sobre novos formatos de relacionamento, na linha "amor livre" ou "casamento aberto" é sempre com um ar de desconfiança. A maioria de nós não consegue entender como alguém pode viver sabendo que o outro tem (ou pode ter) uma outra relação.

Mas, quando olho em volta, percebo que a galera vive essa vida desde sempre, só que sem botar no papel. Porque, infelizmente, nós criamos um ideal de casamento que não conseguimos cumprir. Juntamos a ideia do amor eterno com a monogamia e botamos uma meta muito mais ambiciosa do que a turma consegue entregar.

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E como renegociar os acordos exige que se passe por uma caminho espinhoso, melhor mesmo é não falar sobre o assunto e fazer aquele famoso "casamento aberto só pra mim". Renegociar exige assumir que não está legal. Renegociar pede humildade, generosidade e peito aberto, coisas que não combinam muito com essa instituição milenar e (falsamente) sólida que é o casamento.

Não é maluco? A gente quer ficar casado pra sempre, mas não quer olhar para a pele morta que se deposita entre o casal depois de uma boa quantidade de anos.

É como se falar dos problemas fosse sinal de fracasso. Preferimos fingir que está tudo bem a fazer com que tudo fique bem de verdade.

Num tempo em que o número de matrimônios só diminui e o de divórcios só cresce, seria muito mais honesto olhar para as questões e propor adaptações que nos salvem da cilada que é fingir que está tudo bem.

Casais de longa data muitas vezes transam pouco ou brigam muito, por exemplo. Casais de longa data muitas vezes viram empresas de administração do lar e da família. Casais de longa data se perdem nas pequenas queixas que um faz do outro e na vida que gira em torno de desentendimentos. Tudo isso é normal. Bizarro seria se a gente passasse 15, 20, 30, 40 anos junto com alguém sem ter problemas e sem ter que fazer alterações.

Porque se a gente (enquanto pessoa unitária) muda, o casal, que é feito de duas pessoas unitárias muda mais ainda.

Longe de mim dizer aqui que abrir o casamento resolve alguma coisa. Mas invejo a sinceridade dos casais que se analisam e buscam saídas para seguir juntos, sem ter que enganar o outro.

Tenho tido muita preguiça desse formato antigo, em que as pessoas se dizem apaixonadas, monogâmicas e super felizes, mas na primeira oportunidade dão uma puladinha de cerca para desopilar.

Sejamos honestos, o mundo mudou, mas o formato dos casamentos continua no século XIX. E não me venha com estereótipos tortos que colocam certas mulheres e certos caras na berlinda da desonestidade marital.

Percebo cada vez mais que quem vê cara não vê traição. Tem uma multidão com pose de santa e pinta de bom rapaz jogando a corneada pra debaixo do tapete e vivendo o tradicional casamento aberto (só pra mim). 

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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