Massacre em Suzano: a culpa é dos pais? Do avô?
O país inteiro se chocou com o massacre da escola Professor Raul Brasil, em Suzano. A imprensa deu conta de cercar a história por todos os lados, como é comum nestes casos. Os amigos dos assassinos, as redes sociais deles, os professores, as câmeras de segurança e claro, a mãe e o avô, que criou um dos meninos.
Correndo atrás dessa mãe na rua o repórter da Band pergunta: "você se sente culpada?". A frase ecoou fundo na minha cabeça. Ela responde que não. Está nitidamente transtornada, com uma pressa por respostas e claramente impactada pela notícia (que recebeu pela TV). Eu me solidarizo com ela (além, é claro, de questionar profundamente a abordagem do repórter).
Numa das principais reportagens do dia, lemos uma conversa entre essa mãe e o avô do menino. Me chama a atenção que eles jogam a culpa (sempre ela) um pro outro: "O pai e a mãe não estavam muito aí pra ele, sabe?", diz o avô. "Agora a culpa é minha? Culpa é sua, que criou ele", retruca a filha.
Dou um suspiro profundo e falo como se fosse para eles: "nós somos todos culpados".
Nós, essa sociedade com apego pela espetacularização da vida privada. Nós, essa sociedade aficionada por jogos de luta, guerra e assassinato. Nós, essa sociedade que mesmo depois de um evento desses acha que é com violência que conteremos a violência. Nós, essa sociedade que tem como meta e sonho mais alto milhões de likes e espectadores. Nós, essa sociedade que tem imensa dificuldade em respeitar o diferente e ridiculariza quem não se encaixa.
É nossa culpa esses dois moleques terem sonhado e planejado o ataque. É nossa culpa um deles ter abandonado a escola. É nossa culpa não ter percebido que as conversas sobre armas estavam ultrapassando o limite do bom senso. E sobretudo, é nossa culpa achar que existe algum bom senso em cultuar as armas e a violência.
Qualquer pessoa consegue imaginar o sentimento dos pais ou dos cuidadores diretos, neste caso o avô, de um adolescente que comete um crime dessa natureza – pra quem não consegue, existe o filme "Precisamos falar sobre Kevin". É claro que a culpa está ali, e se não estiver, nós (enquanto sociedade), daremos conta de plantá-la. A começar pela pergunta do primeiro de muitos repórteres que tentarão a todo custo tirar lágrimas e alguma explicação dessa mãe (pai ou avô).
Mas tomara que nem eles e nem seus interlocutores percam de vista que o mundo injusto, a um clique e sempre na expectativa de milhares de views é tão ou mais poderoso na formação de um ser humano do que uma mãe ou um avô.
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