Vocês estão preparados pra ver mulher pelada nos blocos de rua?
A pergunta pode parecer idiota, já que cansamos de ver a Globeleza e os destaques dos carros alegóricos sambarem na sala de nossas casas vestidas só com purpurina. Mas o que veremos este ano, minhas senhoras e meus senhores, não são os corpos produzidos e que reforçam a objetificação da mulher, o que assistiremos é a libertação daqueles corpos que outrora foram estimulados a se esconder.
Neste Carnaval, como já se anuncia nos blocos pré-festa e nas vendas de fantasias, veremos corpos livres, nus e seminus desfilando por ruas e bloquinhos do Brasil.
Os mais desavisados vão dizer que é "tudo sem vergonhice igual". Mas, na verdade, um nu é praticamente o inverso do outro.
Os corpos que nos são empurrados pela TV estão em sua totalidade encaixados dentro de um padrão e enjaulados por câmeras. Mulheres magras, jovens e cis. Mulheres famosas com a credencial VIP e mulheres negras sendo expostas como se tivessem nascido pra isso. Esses são os corpos autorizados a saírem nus no Carnaval. São os corpos que "esperamos" e "queremos" ver e exatamente por isso são objetos de uma sociedade conhecida por expor e reprimir de acordo com sua vontade.
Já na rua o que se anuncia é a exibição de corpos em diferentes formatos, cores e gêneros. Corpos ousados que não pediram autorização para se mostrar, corpos estimulados a serem cobertos porque "quem mostra, só pode estar querendo ser estuprada". Corpos que aprenderam a ter medo e vergonha, não necessariamente nesta ordem.
Pois este ano veremos estes corpos contornados por maiôs diminutos e pasties que vestem apenas o bico dos seios. Lembremos que este adereço é velho conhecido de figurinos carnavalescos, aqueles que tiverem autorização social pra se expor. Mas agora eles estão a venda pra geral e sim, vão sair de casa pra passear no Carnaval.
Este movimento que podemos chamar de "nudização" vem se anunciando ano após ano e pelas minhas contas vai estacionar de vez em 2019. Um misto de evolução do que já vinha sendo construído e resistência contra a caretice que se anuncia. Um misto de ocupação e persistência.
Corpos que gritam "nenhum direito a menos" e "não é não". Corpos que demarcam as conquistas femininas e celebram a liberdade de transitar, ousar e mostrar.
Pois eu pergunto novamente: vocês estão preparados para ver mulher pelada neste Carnaval?
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