Homem agride mulher e alega que ela feriu seu "ego masculino". Sério?
Esta semana os portais de notícias foram invadidos por várias desgraças. Uma delas tem pinta de corriqueira: mais uma mulher foi violentamente agredida pelo marido. Mas dessa vez o rapaz usou uma justificativa curiosa; disse que a espancou e ameaçou de morte por ela ter "ferido seu ego masculino".
A moça, mãe de seu filho recém-nascido, havia recusado o pedido do marido de dançar com um parente numa festa de família.
Onde isso fere o ego de alguém? A única coisa que essa recusa fere são séculos de patriarcado, tempos em que não cabia à mulher decidir sobre si mesma. Tempos que incluem submissão, obediência e porrada. Vem daí o regime de leis que tirava da mulher qualquer direito a posse, voto e que não punia maridos que "aplicassem castigos corporais às esposas".
Toda nossa cultura é enraizada nestes pilares e por mais que tomemos cada dia mais distância de tudo isso, ainda sentimos na pele os efeitos da história. Somos agredidas como se estivéssemos no século XIX e ainda temos que escutar esse tipo de "justificativa". Pra mim, são duas agressões, uma ao corpo e outra às nossas conquistas.
Sei que muitos vão dizer que o cara é maluco e que tem que ser punido. Ponto. Mas o melhor a fazer, meus amigos, é refletir sobre tudo isso. Pois é este mesmo "ego masculino" que joga na roupa curta a culpa por assédio e estupro. É esse mesmo "ego masculino" que faz com que aceitemos a traição dos homens e condenemos a das mulheres. É este mesmo "ego masculino" que joga sobre nós as responsabilidades pelo lar mesmo quando o trabalho fora e a renda são divididos igualmente.
Nossa história nos condena (ainda) a uma forte luta por direitos, porque os ensinamentos do patriarcado estão em cada um de nós e, infelizmente, nessa história não somos princesas e vestimos rosa, somos propriedade e temos a roupa manchada com nosso próprio sangue.
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