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Lia Bock

Como o rosa se tornou a cor símbolo das mulheres

Lia Bock

03/01/2019 18h03

(iStock)

O discurso exaltado da ministra Damares Alves sobre meninos usarem azul e meninas rosa me remeteu imediatamente ao mini documentário da Vox (How did pink become a girly color?) que trata pontualmente deste assunto.

Não foi Deus que determinou esta divisão por cores, muito menos o concílio de Trento. E não, não foi sempre assim. Acho válido discorrer sobre este assunto para deixar registrado que o rosa ganhou os armários femininos em 1953. Ou seja, muitas de nossas avós viveram em um mundo onde a "cor" das mulheres era, vejam só, o azul!

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Sim, como consta do mini documentário, o rosa varreu o mundo feminino através de Mamie Eisenhower, esposa do então presidente americano Dwight D. Eisenhower. A primeira dama a-m-a-v-a rosa e deu a cara do glamour feminino no pós-guerra repetindo incansavelmente esta cor.

Foi uma boa tática, já que o azul e o preto estavam marcados como cores da guerra e das duras jornadas das trabalhadoras nas fábricas. Durante algum tempo, inclusive, falavam em "pink mamie", fazendo uma alusão específica a ela.

Antes disso, azul era considerado um cor muito feminina. Vide uma pesquisa feita pela Time magazine em 1927 com as principais lojas de departamento do país. A revista queria saber qual cor as lojas mais associavam às mulheres em suas linhas de roupas. A resposta mostra um mundo pré-Mamie: cinco das lojas responderam Rosa e cinco responderam azul.

Aliás, um catálogo datado de 1918 sugere que meninas pequenas deveriam usar azul por ser uma cor delicada e elegante.

Depois de Mamie ficou a cargo das revistas e da mídia (claro) pintar a feminilidade de rosa. O resto é a história que já conhecemos que divide os bebês desde antes deles nascerem.

Ou seja, nossa ministra não está falando de nenhuma lei e nem de bom senso. Ela está falando de moda, de gosto e de massificação das ideias. Ela está falando de repetir o que vem escutando sem nem parar pra pensar por quê.

Porque vamos combinar, né gente, se é pra ser dividido por cor e fashionismo, que fiquemos a mercê das semanas de moda e não de uma tia que na década de 50 botou rosa e cruzou as pernas ao lado do marido. Aliás tenho cá pra mim que se Mamie estivesse viva hoje ela usaria algo mais ousado, mais único. Porque o que ela queria mesma era se diferenciar. Ops!

Esse blablabláa da ministra não é sobre cor, é sobre impor um jeito de ver o mundo. E este jeito não é apenas simplista, ele é preconceituoso e historicamente pouco embasado.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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