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Lia Bock

Nem madrasta, nem boadrasta

Lia Bock

13/11/2018 04h00

(iStock)

Eu me defino como madrasta.  A despeito dos contos de fada, sempre chamei a mulher do pai (que não é a mãe) assim. Sem preconceito, sem o peso da carga literária ou histórica. Mas quando disse para os meus filhos e para a minha enteada que sou madrasta dela, eles gritaram juntos um "credo" e afirmaram com muita certeza que eu não me encaixava nos requisitos.  Porque a madrasta deveria ser má – realmente o trocadilho semântico é genioso.

Eles mesmos corrigiram para "boadrasta".  Achei fofo. Mas não curti a ponto de adotar.

Por mim,  mesmo bombardeados por histórias reais e ficcionais em que a madrasta é uma víbora ou uma sem noção, poderíamos conviver com o fato de existirem madrastas boas e madrastas chatas. Mas a verdade é que muita gente não gosta da palavra.

Então, talvez, devamos arrumar uma melhor, porque boadrasta é um arremedo de palavra com erro etimológico ­– porque o ma, de madrasta, não vem de má, o contrário de boa.

Pensando de forma lógica, e num mundo cheio de madrastas de vários tipos, seria muito mais sensato chamar a mulher do pai de "padrasta". Já que este ser não está ali no lugar da mãe, mas sim acompanhando o pai numa nova jornada. Nesta lógica o marido da mãe seria o "madrasto". Nada mais justo do que levarem o preposto do cônjuge e não do ex-parceiro parceira. Sacam?

Eu ficaria bem mais confortável de ser a padrasta – e as crianças também, já que assim deixaríamos no passado e nas histórias de princesas as madrastas que eles tanto temem. Seria um bejinho no ombro pra história da Branca de Neve e os dois pés cravados nos novos tempos. O tempo das padrastas legais pra caramba. '-)

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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