Descriminalização do aborto na Argentina: golaço fora da Copa

(iStock)
E no dia que a Copa do Mundo dá seu pontapé inicial a Argentina marca um golaço político. Coincidências à parte, nesta madrugada, muitas das mulheres que nunca puderam comemorar o título mundial (porque nasceram depois de 1986, última vez em que o país foi campeão) lotaram as ruas e vibraram como se, finalmente, acabassem com o jejum de 32 anos.
Só que o jejum que elas quebraram é muito maior do que o futebolístico. Claro. A descriminalização do aborto faz justiça há séculos de opressão contra a mulher, há séculos de controle estatal de nossos corpos e a uma lógica imposta de que um acumulo de células vale mais do que a vida de uma mulher.
Hoje, somos todas Argentina. Somos todas hermanas em êxtase pelo país vizinho que, em nosso nome, deixou pra trás uma lei retrógrada e machista, que condenava mulheres que decidiam interromper a gravidez a até quatro anos de prisão.
Claro que a lei ainda precisa passar pelo Senado e ser sancionada pelo presidente. E exatamente por isso, seguiremos todas azul e branco, torcendo e gritando "dale, dale Argentina!". Estaremos todas de braços dados aguardando pela sacramento final da vitória histórica que nos devolve o poder sobre os nossos corpos. Sim, devolve, porque ele já foi nosso. Na Antiguidade, a mulher não apenas decidia se queria levar a gravidez adiante, como conhecia os métodos naturais para interrompê-la caso desejasse.
Gosto sempre de falar sobre a perseguição a estes métodos (muito bem explicada no livro "O Calibã e a Bruxa", da italiana Silvia Federici). Resumindo bem: primeiro, os métodos foram proibidos; depois, as detentoras dessas informações, perseguidas e queimadas como bruxas, e, na sequência, a gravidez foi santificada e tratada como algo que não pertence à mulher.
Pois hoje, cada uma de nós pode se unir às hermanas e sentir o gostinho, mesmo que de longe, de poder deliberar sobre o próprio corpo.
Dale, dale Argentina!
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