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Lia Bock

O que você esperava da Anitta?

Lia Bock

23/03/2018 11h35

print do post de Anitta que, depois das críticas, foi deletado

O que esperamos de nossos ídolos musicais de forma geral?

Claro que seria lindo se eles concordassem com a gente politicamente e preenchessem suas redes sociais com frases elucidativas e embasadas em argumentos reais. Mas não é assim.

No mundo fora do Instagram nossos ídolos são simplesmente humanos. E mais: humanos brasileiros. Muitos tiveram uma infância difícil, lutaram montes para chegar onde estão e, hoje, curtem o sucesso sentados no mais frágil sentimento de meritocracia — que tanto atrapalha o raciocínio.

E sem colocá-los de um lado ou de outro de qualquer discussão, podemos dizer que eles simplesmente não estão conectados com os temas que nós estamos. Ponto. Assim, do nosso ponto de vista, o posicionamento frente a uma crise, a um crime ou a uma votação do STF nos parece a mais pura ignorância destilada.

É uma realidade triste. E deve ser encarada com coragem, tanto por nós, fãs, como por eles, artistas.

Sim, porque quando um artista tenta agradar todo mundo, acontece o que aconteceu com a Anitta. Seu texto sobre o assassinato de Marielle e Anderson era nitidamente um morde e assopra tentando contemplar tanto os fãs que marcham por justiça e querem "o fim da polícia militar", como os fãs que tentam diminuir a morte da vereadora como "apenas mais uma entre tantas". E daí o bicho pega.

Primeiro porque nenhum dos lados fica satisfeito. Segundo, porque o povo (fã o ou não) já cansou de demagogia e falatório sem alma.

O que nós podemos fazer como fãs é questionar nas redes, mandar links e tentar colocar o outro lado ou: aceitar a decepção e cortar da lista. Porque a verdade, é que ser fã não é só gostar da música. É admirar a pessoa. E se as opiniões dela estão impedindo que isso aconteça, deixamos de ser fãs, certo?

E aí, cada um sabe seu limite. Cada um sabe onde o calo aperta. E quais bobagens aguenta do seu ídolo falastrão.

E sobre Anitta especificamente, deixo as palavras perfeitas da colega Clara Drummond: "Não sei como temos alguma esperança a respeito da politização da Anitta. É evidente que ela não é feminista, não é de esquerda, não é ligada em política. Anitta nos ofereceu milhares de provas muito bem documentadas – quem não lembra daquele papo de "mulher precisa se dar ao respeito", no programa Altas Horas, para em seguida levar um belo puxão de orelha da Pitty? Anitta é uma mulher da periferia que virou um ícone do show business graças ao seu talento, esforço e sorte. Ela é uma mulher empoderada não por causa da Angela Davis ou Simone de Beauvoir, mas sim por conta da sua própria personalidade – ela é ariana, néam?! O clipe 'Vai, Malandra', que eu achei muito maravilhoso, é uma volta às origens mercadológica, quando Anitta percebeu que ser uma mulher negra da favela poderia ser um bom branding – Anitta é, sem dúvida, inteligentíssima". Mas não exijamos que ela seja politizada.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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