Topo

Lia Bock

Tragam as crianças pra sala: vamos falar sobre sexo

Lia Bock

09/02/2018 05h00

(iStock).

Li no blog do colega Rodrigo Casarin esse texto chocante sobre a sexualidade dos adolescentes. Ele cita muito o livro "Garotas & Sexo" (ed. Zahar), da jornalista americana Peggy Orenstein, mas traz também um pouco da realidade brasileira pra que não achemos que o cenário deturpado de iniciação sexual é só coisa de quem elege o Trump.

Ali, lendo sobre como as meninas recém saídas das Barbies fazem campeonato de boquete (dentre outros absurdos), me peguei pensando: o que mais precisamos para entender que estamos fazendo tudo errado?

Está mais do que translúcido que proibir, não falar e reprimir a sexualidade das crianças só nos leva a lugares sombrios. Na reportagem que fiz para Hysteria um dado impressionante: Um estudo da Bitdefender mostrou que hoje as crianças começam a assistir pornografia online aos 6 anos. Antes mesmo de aprenderem a ler. E isso acontece simplesmente porque é inevitável. Porque vivemos em um mundo hiperconectado e não importa o quão restritivo você seja com os gadgets, há sempre um vizinho, um amigo, um colega mais velho com regras familiares diferentes para que esse dado seja cravado.

Ou seja: reprimimos as crianças quando começam a ter curiosidade com o pipi ou a xoxota alheia, não andamos pelados pela casa porque isso pode instigar desejos, não falamos sobre sexo com medo de antecipar uma fase que talvez ainda demorem pra vir e eles? Assistem os mais variados tipos de pornô na internet que, convenhamos, não são adequados nem para adultos.

Tá muito errado, né? Esse texto do Rodrigo é o melhor exemplo de que falhamos como sociedade no quesito educação sexual e algo precisa ser feito urgentemente. Precisamos entender que a sexualidade faz parte da nossa vida e que falar dela é o melhor jeito de preparar os filhos para uma vida sexual saudável e responsável. É preciso falar de amor, é preciso falar de consentimento, é preciso falar de respeito e claro: de como cada coisa tem seu tempo.

Talvez, matando a curiosidade dos nossos filhos consigamos conter essa ânsia que antecipa as coisas, gera sofrimento e uma visão totalmente deturpada sobre sexo.

 

 

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

Blog da Lia Bock