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Lia Bock

“Mãe, eu quero um celular”

Lia Bock

24/10/2017 10h49

Parece fofo, né? Espera fazer 8 anos. '-) (iStock)

Sempre chega esse dia. E depois que essa fase começa, meus pêsames, não para nunca mais.

Parece que foi ontem que eles estavam ainda no colo querendo manusear nossos gadgets. A gente achava fofo observá-los dedilhando qualquer coisa com tela como se o mundo fosse todo touch.

De repente o tempo passa e, cá estamos nós, tentando arrancar os aparelhos eletrônicos das mãos de nossos filhos. Negociando tempo, repetindo pela milionésima vez que aqui em casa não compramos moedas, pontos ou vidas e explicando que somos contra jogos pagos.

E quando você acha que conseguiu um certo bom senso no uso, o filho começa com a frase mais aterrorizante da vida dos pais: quero um celular!

Cara, não tem frase mais chata do que essa.

Primeiro você tenta o básico: "celular não é coisa pra criança". E depois diz que pode causar sérios danos à saúde se usado na infância. Mas quando dois ou três amigos da classe aparecem munidos de seus próprios aparelhos, é preciso mudar a tática. "Não, eles não vão morrer". "Sim, dá pra ter e usar pouco". "Mas, não, você não vai ter".

"Tô sem dinheiro", vem na sequência. Funciona alguns meses. Depois vem a fase da negação dramática: "acho que sou contra. Só vai ter celular quando puder comprar um". Na verdade a gente tenta qualquer coisa pra ver se acaba com o assunto logo.

Mas você sabe que o assunto não acaba. Cada mês que vira é uma vitória. E é também um mês a menos para o próximo aniversário. E no aniversário a coisa sempre piora.

"Então eu vou usar seu computador". Num primeiro momento parece um bom negócio. É mais fácil ficar de olho, segue sendo propriedade dos pais e não sai pra passear com a criança. Mas, depois do primeiro vírus, arquivo desaparecido ou de uma mensagem com 35 emojis para o chefe em fúria a ideia já não parece boa. Computador só com o dono ao lado.

E a compra do celular segue o assunto preferido das refeições e dos momentos de stress. Qualquer coisa que você diga não ou proíba vem acompanhada de um chorinho forçado e a lembrança de que você é a pior mãe do mundo porque não quer dar um celular.

Trocar de aparelho só quando o velho estiver com óbito certificado, porque se não, você vai passar a vida explicando porque não deu o celular velho para a criança desesperada. Melhor não ter esse problema. Nada contra explicar, mas depois de uns anos, cansa. E faço contas: se os especialistas dizem que aos 12 anos é ok, ainda faltam três. Haja gogó.

De repente já são 5 na classe que tem um celular pra chamar de seu. A pressão cresce. Uma amiga que tem um filho de 4 anos diz: "não dá pra reunir todos os pais da classe e combinar que ninguém vai ter?". Como somos ingênuas quando nossos filhos são pequenos. Imagina lançar uma proposta dessa num grupo de whats de uma classe de quarto ano? (meu cérebro tá gargalhando alto. De nervoso, só de pensar na discussão).

"Então eu quero um vídeo game!". Nunca pensei que iria gostar de ouvir isso. Fechei na hora.

Mas vocês sabem quanto custa um vídeo game??? Glupt. Houston, we have a problem!

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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