Você gosta de viver numa sociedade machista?

Menino ou menina? Não importa! (iStock)
Porque os homens abririam mão de privilégios para deixar de viver numa sociedade machista? Este lugar parece tão aconchegante e quentinho. Aqui, eles têm poder, são servidos e usufruem de regalias. Realmente, pedir que abram mão de tudo isso, soa quase como uma afronta. É praticamente como querer que os políticos de Brasília acabem com o seu próprio foro privilegiado. Só os muito honestos, lúcidos e íntegros são capazes.
Pois bem, quem aí tem a honestidade de assumir que têm privilégios e abrir mão deles? Quem aí está pronto para ensinar os filhos que corpos diferentes não significa direitos diferentes e partir para uma nova era em que o machismo estará apenas nos livros de história?
Não é à toa que a luta por igualdade de gênero é árdua. É como tentar convencer o rei que é melhor não ter rei.
Sei que já convencemos muitos sujeitos de boa índole que a igualdade é legal. Mas, de forma geral, ainda temos muito a fazer. Enquanto tiver mulher dizendo que "assim está bom", veremos uma estrada sem fim à frente.
E como é que a gente consegue ser tão bom em regar esse machismo que nos cerca? Começa com a mamadeira azul, passa por frisar que Frozen é um filme de menina, depois por proibir as bonecas e, claro, quando o menino chorar dizer "parece uma menininha". Pronto. Isso já é meio caminho andado para que nossos filhos (e filhas) cresçam achando que o mundo realmente se divide por gênero.
Usar expressões preconceituosas quando eles já estão mais crescidinhos também faz com que criem uma visão machista do mundo. Quando a pesquisa da Skol saiu essa semana e mostrou que 92% dos entrevistados já escutaram a frase "mulher tem que se dar ao respeito", vemos mais uma etapa da receita para uma sociedade desigual. Homem não tem que dar ao respeito? Não. O que a gente fala pros nossos filhos vai mais na linha do: "homem é assim mesmo", perdoando e justificando traições, por exemplo. Privilégios.
Pois se criar filho (e filha) machista a gente já sabe, pergunto: como faz para criar essas crianças pensando os seres humanos de forma igualitária? Como faz pra os caras não acharem que as mulheres "tem que se dar ao respeito", lavar a louça, cuidar da logística da casa e, muitas vezes, obedecer?
A resposta é tão simples que parece até mentira: a gente para de reproduzir comportamentos como os citados acima. A gente para de regar! Compra, sim, boneca pros meninos, deixa eles chorarem em paz, e o meu preferido: a gente brinca de casinha com eles. Vou escrever o óbvio, mas acho necessário: só dá pra acabar com o machismo se a gente parar de tratar meninos e meninas de forma diferente e se a gente parar de achar justificativa pra isso – contrariando pesquisas e especialistas no geral.
Claro que temos que respeitar as particularidades e gostos de cada criança, mas ensinar que lavar a louça é tarefa dos habitantes da casa (não das mulheres) é um bom começo. Parar de frisar que isso ou aquilo é pra menino ou menina é o básico. Questionar as escolas que insistem nessas divisões por gênero é outra briga boa e civilizatória.
Mas não é porque a resposta é simples, que fazer tudo isso é fácil. Não é. Estamos enterrados até o pescoço em comportamentos machistas e sair dessa lama é um sacrifício diário. Mas o mais importante é querer sair!
E daí eu volto ao questionamento inicial: quem aí topa abrir mão de privilégios para viver numa sociedade igualitária?
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