Por que o quadrinho "Era só pedir" flechou o coração das minas?
Você sabe por que as mulheres estão compartilhando calorosa e aflitivamente nas redes sociais o quadrinho "Era só pedir", da cartunista francesa Emma? Feministas, mulheres com companheiros bacanas, moças que não têm filhos, todas se sentiram representadas naquela história da mulher que cuida de toda a logística e organização dos afazeres da casa. Porque… Amores, a gente cuida mesmo!
E não torça o nariz dizendo: "Lá vem a feminazi". Te convenço rapidinho. Quantos homens você conhece que fazem a mala de um filho para a viagem? Quantos homens orientam a faxineira nos afazeres da casa? Quantos fazem a tabela da programação das crianças nas férias? Quantos cortam as unhas da prole? Quantos cuidam de suas mães e pais velhinhos? Quantos catam piolho? Quantos trocam mensagens com o pediatra quando aparece aquela brotoeja? Poucos. Pouquíssimos.
Não vou entrar aqui no campo do argumento "mas as mulheres fazem melhor" (porque talvez a gente faça mesmo: são séculos de prática). O que está em jogo, como o quadrinho bem mostra, é a carga mental gasta com essas atividades estratégicas e mundanas. Foi isso que flechou o coração das minas!
Nos sentimos acolhidas por algo que muitas vezes não sabemos expressar em palavras. Pensar dá trabalho, ocupa, gasta tempo e energia vital. E mesmo os pais bacaninhas das escolas construtivistas, que trocam fraldas, vão a todas as reuniões e fazem o jantar orgânico, às vezes não percebem que no tabuleiro do lar, estamos à frente da maioria das atividades.
Não é à toa que nos grupos úteis de Whatsapp da escola são as mães as mais ativas – mesmo quando é o pai quem frequenta a porta da escola. E não é porque somos as loucas do zapzap, não. É porque além de tocar nessa banda chamada família, somos o maestro, a rodie, a produtora executiva e, às vezes, a faxineira que limpa o palco depois do show. E os caras? Eles são os bateristas (ponto).
O quadrinho "Era só pedir" viralizou e mexeu com a gente porque somos nós na linha de frente mesmo e isso trouxe o gosto amargo de entender como séculos de uma educação machista influenciam até a nossa família moderninha. O quadrinho mexeu com a gente porque amamos nossos companheiros e não queremos culpa-los por algo que veio muito antes de a gente existir enquanto casal. O quadrinho mexeu com a gente porque, talvez, não estejamos mais aqui quando esse cenário for diferente. Porque percebemos que dividir igualmente o tempo com os filhos não inclui dividir igualmente a organização dessa logística.
Sacou? E puxa, o quadrinho mexeu com a gente porque nos demos conta de que… Porra, porque sou sempre eu que faço a mala da criança?
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