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Lia Bock

Achei que nossa relação era sólida: o amor não é frágil, mas o casamento é

Lia Bock

24/04/2019 04h00

(iStock)

É muito comum a gente ver a galera casando por aí e logo entrando naquele modo "agora pronto", como se o período da conquista fosse uma fase de vídeo game que a gente passa e não precisa mais olhar pra ela. Grande erro.

Não existe garantia no casamento e, ao contrário, quanto mais a gente acha que "não precisa fazer nada", maior a chance de dar errado — sendo errado, neste caso, um fim precoce.

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O casamento deve ser visto apenas como a celebração do amor. Ele não dá passe livre para a alegria eterna e muito menos para uma relação de paz e  harmonia. Aliás, pode ser bem o oposto disso.

Depois que a gente casa, é preciso seguir conquistando o parceiro, fazendo ele acreditar que vale a pena estar contigo (e vice-versa). Não que o amor seja frágil, mas o casamento é. A vida a dois não é simples e dividir um saco de sal com o outro exige perseverança, respeito, dignidade, empatia e cuidado — entre outras coisas.

Não precisa muito pra gente começar a se incomodar com pequenas diferenças, e se começamos a tacá-las na cara do outro, precisamos saber que vai ter consequência. Porque casamento quebra! Espatifa, estraçalha, esborracha, esgana, definha. Morre. Às vezes, o amor até está lá, mas se o resto todo se foi, não há flores ou viagem pra Buenos Aires que recupere.

E cuidar tem a ver com respeitar jeitos diferentes de fazer as coisas. Tem a ver com manter a unidade de cada um ao mesmo tempo em que alimentamos a dupla. Cuidar tem a ver com ouvir e perdoar, com calar e falar. E antes de vcs acharem que eu pirei, explico: no casamento, assim como no trabalho e na vida, tem hora pra tudo. O desafio é saber quando se colocar e quando deixar pra depois ou pra nunca.

E esse bom senso a gente aprende prestando atenção no outro e na nossa dinâmica a dois. Esse bom senso a gente aprende com as relações que tivemos anteriormente e com os problemas que tiveram os nossos pais e nossos amigos. Ou seja, vivendo.

Eu diria que depois que a gente casa, é que o desafio começa. Conquistar quem está ali do lado todos os dias não é fácil. A gente esquece, passa outras coisas na frente ou se deixa engolir pela vida cotidiana mesmo. Isso sem falar nas pessoas que tacam o casamento na parede ou pisoteiam achando que ele é de borracha ou de algum material da NASA. Não, meus amigos, se o casamento fosse um material, acho que ele seria de cristal, aquele bem fino que com um peteleco quebra.

Porque sim, vivemos tempos dinâmicos, vivemos tempos livres (já? ou ainda?) e o matrimônio está relacionado à vontade de estar junto e não a um negócio ou tradição. E se não for legal, desafiador, gostoso e parceiro, não há motivos para ficar. Há?

Parece óbvio? Pois não é. Está cheio de gente por ai, fazendo gato e sapato do casamento e quando o outro dá as costas vêm aquelas frases feitas: "eu achei que nossa relação era sólida", "achei que nosso amor era mais forte". Pois não foi. Sinto muito.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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