Topo

Lia Bock

Patada de mozão não dói?

Lia Bock

15/02/2018 10h44

(iStock)

Você com certeza conhece casais que se agridem em público ou que se xingam aos berros. Infelizmente isso não é uma coisa tão rara quanto deveria. Sim, porque perder a cabeça uma vez, num momento de tensão ou estresse dá até pra entender, mas estar imerso nessa dinâmica em que um vive detonando o outro é uma coisa muito (muito!) estranha pra mim.

Num dia o cara está chamando a mina de mozão, no outro diz que ela é filha da puta? Numa manhã de domingo a mana tá fazendo declaração de amor nas redes e de noite berra no meio da rua que ele é um imbecil? E assim a vida segue como se tapas e beijos fossem complemento básico um do outro. Socorro.

Gente, isso não é normal, tá? Tem alguma coisa errada aí.

Primeiro porque casamento não é um monolito inquebrável e por mais que você "beije", se der muitos "tapas" ele morre. Ou (pior) vive agonizante respirando por aparelhos sem qualidade de vida nenhuma.

Eu não consigo entender porque depois de uns anos juntos as pessoas começam a achar que não há problema em xingar ou agredir o outro. Ninguém jamais faria isso num começo de namoro, então porque raios começar depois da união consolidada? E não tô falando de relações abusivas unilaterais onde um é o agredido e o outro é o agressor. Tô falando de uma cultura que se instala em alguns casais onde os dois começam a se cutucar e depois a se ofender e logo a se xingar mutuamente.

Isso é tão tóxico. Tão triste. E jamais deveria ser naturalizado. Uma agressão verbal mais intensa deveria sempre ser seguida de uma longa e séria conversa a dois. É grave e deveria ser tratada como tal.

Não tem problema nenhum a gente se desentender. E é totalmente compreensível alterarmos o tom de voz ou até falarmos umas bobagens sem pensar de vez em quando. Mas daí a xingar em altos brados e isso virar uma constante tem uma vala enorme.

Xingar é pisar no outro com força, é descontrolar no nível máximo e não conseguir conter a própria quentura. Sinal vermelho, né?

Xingar é odiar, mesmo que por alguns instantes, e no meu mundo (salvo raras exceções com pedidos de perdão muito embasados) não deveria ter volta.

Porque, afinal, xingar é destruir. E se é isso que o outro quer, bora para a porta dos fundos, onde cada um sai pra um lado seguindo seu rumo. Porque, sério: não consigo entender como alguém taxa o outro de cuzão (e afins) e segue dormindo a seu lado.

E, pra aqueles que se desculpam, dizendo que são esquentados e perdem a cabeça com frequência mesmo, meus mais sinceros pêsames por todas as relações que vocês vão matar.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

Blog da Lia Bock