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Lia Bock

Ter ciúmes do ex é tão anos 90

Lia Bock

25/08/2017 04h00

Em 10 anos o número de divórcios cresceu 160%. Até William e Fátima se divorciaram. Até Brad e Angelina. Está mais do que na hora de, nós, seres humanos habitantes do planeta Terra, aprendermos a lidar com a situação. Isso não significa que vamos deixar de sofrer, deixar de derreter em uma poça de emoções e passar um tempo achando que nada vale a pena (quanto é esse tempo, é algo pra cada um resolver).

Mas o que importa aqui é que já está mais do que na hora da gente entender que o nosso ex é o futuro parceiro de alguém e nada no mundo poderá mudar este fato. Ou seja: se sabemos que as pessoas se divorciam e sonhamos com um futuro amoroso pra nós, por que raios é tão difícil se acostumar com a ideia de que haverá uma nova pessoa recostando a cabecinha naquele ombro que um dia foi nosso?

Tenho achado ciúmes do ex (ou da ex) tão anos 90. Aquela década em que pensávamos que éramos livres porque nos deixaram votar para presidente e tinha uma novela chamada "Sex appeal". Aquela década em que os casais só se divorciavam quando os filhos já estavam grandes, mesmo que isso custasse uma infelicidade geral na casa. Aquela década em que achávamos que o máximo do feminismo era queimar sutiã.

O mundo mudou. O feminismo são os feminismos e existem uma diversidade enorme de formatos de família. Estamos quebrando a barreira do gênero e despertando o gigante conservador, até então tranquilo em sono profundo. Alguns estados americanos vendem maconha na farmácia… e, continuamos chamando a parceira nova do ex-marido de "vaca" ou o namorado novo da ex-mulher de "idiota". Basicamente, somos a turma da quinta B quando o tópico é evolução emocional.

Enquanto sociedade, queremos casar, separar, casar novamente e assim por diante mas não queremos que o ex se amarre em ninguém. Ah, vá! Devem ter lido muito conto de fadas pra gente mesmo. Devem ter marcado a ferro o conceito "até que morte os separe" nos nossos cérebros e, no fundo, estamos fazendo um esforço para nos matarmos. De ódio e amargor.

Alguns podem achar este texto de uma frieza ímpar. Mas ele é puro amor. Porque amar quando estamos sorridentes e de mãos dadas na vida é fácil. Amar quando estamos apaixonados e planejando aquela viagem ou um bebê é moleza. Mas e amar quando já tiramos o pior um do outro? Quando já gritamos nossas piores certezas? Difícil, né? Mas tenho certeza que dá.

Empatia, respeito, um tanto de concentração e amor próprio ajudam nesta empreitada. Ver as fotos do que fomos quando ainda brilhávamos um para o outro também pode revigorar aquele amor doce que resolvemos esganar. E claro, mentalizar que a felicidade só é boa de verdade quando é pra todo mundo, também ajuda.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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