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Lia Bock

Gretchen rebola na nossa cara e prova que mulher não tem prazo de validade

Lia Bock

05/07/2017 04h00

Gretchen em cena do video da música "Swish Swish", de Katy Perry. (Foto: Reprodução/YouTube)

Num primeiro momento pareceu piada. Depois, ficou com cara de estratégia barata para promover um videoclipe. Mas espera: tem mil e uma formas de se lançar no "falem bem ou falem mal: falem de mim". E aí, nós nos perguntamos: por que a Gretchen?

O mundo da internet é cheio de celebridades e subcelebridades. Ao que parece, Katy Perry adora os memes com Gretchen. Tá. Mas daí a levar a rainha do bumbum  para dentro de seu clipe tem um chão. No mesmo dia a Netflix solta um vídeo promocional da série "Glow" e quem é a musa inusitada da propaganda? Ela mesma.

Explicações e porquês a parte, vamos aos fatos: temos uma gigante mundial do ramo do entretenimento e o clipe de uma cantora norte-americana de sucesso que tem como protagonista (absoluta) uma mulher de 58 anos cujo os atributos físicos sempre foram o cartão de visitas. Quer dizer, até ela "passar da idade", como gostam de dizer, e cair numa espécie de ostracismo programado.

Gretchen tentou a política, mudou de país, vendeu roupa e se relançou no YouTube falando da vidinha caseira que leva na Europa. Ao que parece, Gretchen poderia várias coisas, até dançar por um pequeno punhado de dinheiro para pequenas plateias brasileiras para pagar as contas.

Mas Gretchen não poderia ir longe, porque Gretchen é "velha". No máximo ela poderia virar a recordista de memes e servir para fazer graça e troça na internet.

Daí vem esse clipe de uma cantora de 32 anos, que já foi considerada símbolo sexual e que roda o mundo lotando shows tacando a Gretchen na cara dos brasileiros (que se espantaram) e dos gringos (que não entenderam muito bem). Pasmem.

Lá vem a Gretchen fazendo o que ela sabe fazer, mesmo que o gingado já não seja o mesmo e o rosto seja marcado pelas várias tentativas de permanecer jovem. Gretchen veio rebolar na nossa cara! E para quem olhar com desconfiança, ela vem rebolar em dose dupla.

Torçam o nariz se quiserem, mas eu não vim falar do poder dos memes e da potência da internet. Disso já sabemos. Quero aqui, botar reparo na beleza da valorização de uma mulher que "já passou da idade". Uma mulher que, talvez, não precise se reinventar justamente porque ela já se inventou. Ela dança. Basta. (E olha quem nem sou fã).

Num tempo em que mulheres de 45 anos fazem o papel de mães de mulheres de 30 nas novelas, num tempo em que as publicações de celebridade insistem em fazer listas de "mulheres que chegam aos 50 com tudo em cima" e a Beth Faria não pode ir de biquíni pra praia em paz, esse clipe é um manifesto! É uma carta de alforria para quem repensa o decote porque evidencia os seios já meio caidinhos ou pra quem costuma escutar aquela frase nefasta: "mas você não tem mais idade".

Quem diz o que a gente pode, é a gente mesmo. E abaixo o ostracismo programado de quem vive do corpo.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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