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Por que as pessoas têm amantes? Não me venham com "é só sexo"

Lia Bock

25/06/2019 04h29

(iStock)

Apagar todas as trocas de mensagem do WhatsApp. Ter um app secreto para conversinhas e trocas de nudes. Mentir com convicção e álibi sólidos. Não dar gafes confundindo o um com o outro (ou outra). Não deixar nenhum resquício no carro ou nos bolsos. Incinerar notinhas de restaurante, motel e compras fora do script. Anotar nomes com codinomes e deletar ligações. Dar sumiço em camisinhas e saquinhos de camisinha e notinhas da farmácia incluindo camisinha. Ufa, a lista de preocupação pra quem tem amante é longa.

Tenho achado que as pessoas que escolhem esse caminho são realmente muito organizadas. Além, é claro, de estarem com tempo de sobra, porque olha, ter companheiro (ou companheira), filhos, trabalho e casa pra cuidar e ainda por cima ter amante… realmente precisa de muita metodologia.

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Essa não é minha especialidade, já que sou mais do tipo monogâmica mesmo, mas até por isso tenho pensado sobre o assunto. O que ter um amante significa? Pelos bares e zaps da vida, vejo histórias de muita gente que está super infeliz a dois, mas não consegue se separar. Daí arrumar uma alegriazinha ali fora parece uma ótima ideia. Ô, gente, será? É uma coisa meio na linha "já que está ruim, bora cutucar aqui pra ver se explode de vez; é isso?

Vendo dessa ótica, parece que somos um bando de adolescentes medrosos sem coragem pra fazer o que deve ser feito. Gente que não quer confusão por cima do pano, resolve armar uma confusão por baixo dele. Gênios.

Têm também aqueles que não estão exatamente infelizes, mas precisam dar uma diversificada pra alegrar a vida, porque sabe como é… "comer sempre a mesma coisa cansa". Caraca, essa frase tem tanta falsidade que nem sei por onde começar a comentar. Mas vamos lá, se esse fosse mesmo o ponto, por que não abrir o jogo e botar na mesa a questão? Vai ver que a outra parte está sentindo a mesma coisa e abrir a relação vai ser bom pra todo mundo.

Tosse. Engasgo. "Calma, também não é por aí".

Claro que não, a maioria de nós, seres humanos tão românticos quanto desonestos, quer uma via de mão única quando o assunto é: amante. Parece coisa de criança distribuindo as balas: "dois pra mim e um pra você"; não é não?

Porque verdade seja dita, ninguém quer se traído, mas trair já são outros quinhentos. Se a gente fosse mais apegado na lógica toma-lá-dá-cá, que nos reserva tudo que entregamos ao mundo na mesma (ou em maior) medida, acho que faríamos outras escolhas.

E não me venham com essa de que "é só sexo". Porque não existe "só" antes do sexo, meus amores. Sexo é importante pra caramba e se a energia está indo pra outro lugar, por certo vai faltar dentro de casa. Sexo é energia vital, sexo é troca, sexo pode até ser a salvação. Mas definitivamente "só" é uma coisa que sexo jamais vai ser.

Casamento é dedicação, perrengue, sexo, sintonia e também a falta dela em muitos momentos. E casamento deveria ser parceria honesta e aberta com direitos iguais pra todas as partes. Mas algo acontece na cabeça do ser humano que na hora do vamos ver, dá defeito.

E importante: pensar que o outro não está ligando ou que talvez tenha ele (ou ela) também um amante é para os fracos. Porque se por acaso a pessoa não tem nada disso e se por acaso o acordo de vocês inclui monogamia: toma que o abacaxi é seu. Já vi gente se convencer (erroneamente) de que o outro tinha um amante para justificar as próprias escolhas.

Torço para que um dia sejamos seres mais corajosos e que consigamos ressignificar o casamento com ares de século XXI. Menos amante e mais amor. Menos desonestidade e mais casamento sincero (aberto?). Menos medo e mais experimentação a dois. Menos monogamia-fake e mais sinceridade. Vai fazer um bem danado.

 

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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