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Victoria's Secret anuncia modelo plus size. Mas isso não paga seus pecados

Lia Bock

10/10/2019 04h00

Ali Tate-Cutler (Reprodução Instagram)

A famosa marca de lingerie Victoria's Secret anunciou a contratação da modelo Ali Tate-Cutler. E eu estou na dúvida se devemos comemorar a entrada da mulher mais curvilínea no casting da grife ou se o certo seria lamentar o fato de uma moça que veste 46 ser anunciada como plus size e usada pela marca para tentar limpar uma barra que já está suja há um tempo.

De fato, Ali foge do modelo de magreza esquálida das tradicionais angels da marca, mas fiquei pensando se ela é mesmo plus size e pra que serve esse termo. Daí veio o questionamento sobre as motivações da marca.

Sites e revistas de moda logo publicaram textos em que consta que a modelo não se incomoda em ser classificada como plus size. Mas, pra mim, o problema vai além do que a recém-contratada aceita ou acha ok.

Quando a gente taxa uma modelo 46 como plus size será que não está, no fundo, corroborando para a manutenção de um padrão em que a magreza extrema é considerada "o normal"? Porque ninguém diz que as modelos magrelas são "small size", o que nos leva à manutenção de um padrão deturpado. E não é de hoje que sabemos que esses corpos nada tem de normais. Vivem sob severa vigilância alimentar –quando não são mantidos por meio de doenças como anorexia e bulimia.

Claro que é bacana ver corpos mais curvilíneos nas campanhas. É o que queremos. Mas a forma como isso é feito é muito importante. Afinal, inclusão e diversidade precisam vir com naturalização e não como cotas mínimas a serem cumpridas para que as marcas ganhem uma estrelinha por bom comportamento. 

A VS já estava na berlinda desde que seu ex-diretor de marketing Edward Razek afirmou com todas as letras que mulheres maiores não fazem parte da "fantasia". A frase exata foi: "Não, não, acho que não devemos [ter modelos plus size e transsexuais]. Bem, por que não? Porque o desfile é uma fantasia. É um especial de entretenimento de 42 minutos". Vergonha alheia define. 

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E daí eu pergunto: de tempos em tempos contratar uma modelo que usa 46 (numeração padrão nos EUA) e alardear que "olha, somos diversos!" faz o que pela diversidade de corpos na mídia? É claro que nos identificamos muito mais com o corpo de Ali do que com o das tradicionais modelos da marca, mas me desculpem, nós queremos mais! Queremos a naturalização da presença desses corpos, queremos respeito, fantasia, autoestima, e não que sirvam de escada pra que a empresa recupere a moral perdida.

Celebremos, sim, Ali Tate-Cutler, mas não joguemos confete para quem (ao que parece) não mudou de fato sua mentalidade e está apenas fazendo apenas mais uma jogada de marketing para limpar seu nome. 

Sinto muito, Victoria's Secret. Vai ser preciso bem mais do que essas contratações esporádicas e midiáticas para vocês ganharem meu respeito de volta. 

 

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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