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Pelo direito de dizer: "Eu não quero ser mãe”

Lia Bock

29/08/2019 04h00

(iStock)

O mundo mudou e hoje já há respeito, livros, TEDs e discussões acadêmicas sobre as mulheres se permitirem não serem mães. Sim, porque durante séculos a maternidade era algo compulsório. Se a pessoa é mulher, a pessoa deve ter filhos. Uma tristeza tanto para as que não queriam, como para as que não conseguiam.

Fato é que, muito feminismo depois, a conversa mudou e hoje há espaço para um ser humano ser do sexo feminino e não procriar. 

Mas a verdade é que esse espaço ainda é apertado e um tanto desconfortável. É preciso entrar nele e se inflar para caber com comodidade. É preciso empurrar algumas muralhas de preconceito e desrespeito para exercer esse direito conquistado há tão pouco tempo.

E para ter a energia necessária para abrir esse espaço é preciso muita certeza, e é aí que mora o problema. O que é certeza? Como cravar uma decisão ainda tida como polêmica e da qual muitos dizem que "você vai se arrepender"? Algumas mulheres têm, sim, essa certeza trator, não titubeiam e abrem caminho por onde for necessário. Mas muitas não têm e nunca vão ter a tal convicção total. 

E o ponto importante aqui é: por que precisa tanta coisa? Uma dúvida vacilante que vai se esgueirando para o "não" já é suficiente. Um não falar no assunto até "ser tarde demais" já é uma decisão. E, no fundo, são os caminhos que muitas mulheres encontram para não ter que cravar essa tal certeza que ninguém sabe exatamente o que é. Essa certeza que causa espanto e atrai comentários nada simpáticos e que ninguém pediu pra ouvir. 

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Para piorar um pouco esse cenário temos hoje os tais congelamentos de óvulos. Na teoria, uma forma maravilhosa de preservar nossos contados ovos "de qualidade" e estender um pouco o período de decisão. Na prática, uma forma de estender a ansiedade e o sofrimento de mulheres que titubeiam em dizer não. 

Longe de mim falar mal do congelamento em si. Ele de fato parece ser muito útil para mulheres que têm certeza que querem ser mães, mas não agora. Não é dessas que estou falando. Trago aqui o ponto daquelas outras, impactadas pela tecnologia de ponta e pela pressão social, mas que no fundo só estão jogando para a natureza algo que elas sentem, sabem que sentem, mas a sociedade diz que não. 

Tenho certeza de que essa não é uma decisão fácil e que assumir o decidido é outra pirambeira à parte, mas acho que, cada vez mais, devemos estimular as mulheres a saírem do armário da maternidade e se sentirem poderosas e firmes para dizer: "Não, eu não quero ser mãe". 

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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