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Quem são as filhas de militares e servidores que vivem da pensão do pai?

Lia Bock

28/02/2018 10h38

(iStock)

Fico me perguntando quem são as mulheres, filhas de militares e servidores públicos que passam a vida pagando suas contas com o dinheiro público. Por certo é gente que é contra o Bolsa Família e qualquer tipo de assistencialismo que, muito provavelmente, consideram um abuso, uma folga.

Que fique claro, não estou falando aqui de quem recebe o dinheiro justamente. Existiu uma lei que deve ser cumprida até que seja, de fato, alterada. Mas, sim, daquelas mulheres que, sabidamente, burlam o sistema para terem direito ao benefício. E, olha, muitas burlam o sistema.

Quem são essas mulheres, meu deus? Elas não têm vergonha? Que tipo de gente finge ainda ser solteira e não ter outra renda para receber a pensão do pai, já falecido, apoiada numa lei de 1958 que já foi revogada, mas que, vejam, segue valendo? Mulheres que na vida real se casaram, tiveram filhos e muito provavelmente foram diversas vezes a Paris. Mulheres que trabalham e ganham seu dinheiro ou têm marido rico, mas têm a pachorra de entrar com liminar na Justiça pra seguir ganhando o "dinheirinho" do papai. Aqui é importante frisar que tem gente recebendo R$20 mil!

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Algumas dessas mulheres aliás, já são senhoras. O caso mais polêmico é o da atriz Maitê Proença, filha de um Desembargador. Nesta reportagem da Revista Época (2013) lemos que ela chegou a perder a pensão na Justiça, mas recorreu e obteve sentenças favoráveis. No texto, seu advogado insiste que ela nunca foi casada. Outros casos na mesa reportagem mostram mulheres que chegaram a celebrar a união na Igreja, mas não no civil, para conseguir manter a pensão do pai.

Os defensores das pensões insistem que os militares contribuíram em vida (com desconto no salário) para que as mulheres e depois as filhas solteiras tivessem esse direito. A questão foi modificada por uma Medida Provisória em 2000. E criou-se a confusão geral. Quem tem direito? Quem pagou pelo benefício? Quem está enganando a União com parecer de que nunca foi casada ou não tem renda só pra manter a mamata? O fato é que ninguém quer mexer neste vespeiro.

Voltando para o mundo real. Penso que essas mulheres se assemelham à minha vizinha que hoje mora com o filho e a neta porque já não tem como pagar o aluguel sozinha. São senhoras, como as mães ou avós de muitos de nós, que vivem da nossa ajuda ou que vivem apertadas com a pequena pensão fruto de um trabalho de muitos anos. Mas essas não. São filhas de militares, de servidores, e merecem um tratamento diferente.

Eu pergunto: por quê?

Num mundo em que brigamos por salários e direitos iguais não há mais espaço para esse tipo de coisa. O mundo mudou, minhas senhoras. Mudemos com ele. Façam como a grande maioria da população e encarem seus boletos de frente, com dignidade, aflição e coragem.

Hoje, a Justiça precisa ir atrás de quem está recebendo o beneficio de forma irregular e parece ter uma enorme dificuldade de cortar a mamata. Pois é… é chato mexer com gente rica, né? Existem liminares sendo concedidas por juízes do Supremo para que essas pensões sejam mantidas.

Mas sigo me perguntando: quem são essas mulheres? Elas precisam mesmo desse dinheiro? Elas merecem esse benefício exatamente por que?

Os números da reportagem da Folha de S. Paulo, mostram que só a interrupção do pagamento dos casos mais escabrosos representaria uma economia para a União de R$ 2,2 bilhões em quatro anos. O texto todo traz informações de revirar o estômago.

É muito chocante que um país com tanta desigualdade, com cortes significativos na Educação, na Cultura e na Segurança Pública não reveja os privilégios dos que sempre foram privilegiados. Ah, claro, somos um dos únicos países do mundo com esse tipo de benefício para as princesinhas do papai.

Mulheres que estudaram em boas escolas, que cursaram faculdade de ponta, que viajaram o mundo e não conseguem se sustentar? Do alto da minha petulância eu diria: "esse não é um problema nosso, madame. Se vira nos trinta".

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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