4 coisas que aprendi sobre casamento em 15 dias de confinamento
Lia Bock
02/04/2020 04h00
Quanto mais tempo junto, menos sexo
Passar bastante tempo junto em casa não tem nada a ver com passar bastante tempo junto numa viagem pra Bahia. Ter que decidir quem vai lavar o banheiro manda pelo ralo toda a libido da semana. Fora que essa coisa de home office faz com que a gente trabalhe intermitentemente entre a hora que abre o olho e a hora que deita a cabeça no travesseiro. Não tem sex appeal que resista. Além do mais, quem é que transa depois de falar sobre o medo de perder os pais e avós, o medo de não conseguir pagar os boletos e o medo de não saber se o nariz escorrendo é coronavírus ou só uma gripezinha?
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No dia a dia corrido do trabalho, a gente acaba não vendo algumas coisas nos nossos parceiros e parceiras. Mas, na hora do confinamento, tudo aparece. E tem muita falha de caráter sendo revelada. Tem gente que não sabe ligar a máquina de lavar roupa, não sabe que precisa lavar os copos antes de lavar as panelas gordurosas, tem nojinho de limpar o banheiro, não sabe que dia passa o lixeiro e acha que o paninho da pia é autolimpante. Tsc tsc. Pois agora, meus queridos, vai todo mundo ter que pôr as mãozinhas que a mamãe e a diarista pouparam na massa! E corre pra treinar os filhos pra que no próximo pandemônio mundial eles sobrevivam ao isolamento.
Relevar é uma arte
Ao mesmo tempo que vencemos cada dia como se fosse uma prova do líder, vamos tendo a certeza de que nada é como gostaríamos que fosse – e muitas vezes o parceiro ou a parceira entra nessa caixa. Mas não é tempo de nos apegarmos às decepções. Não estou dizendo pra fingirmos que elas não existem: podem, sim, ser notadas e reservadas para um aprofundamento ali adiante, mas a palavra do momento é resiliência. Relevar é amor. Então pega o tópico acima e reserva.
Dividir é bom, mas nem tanto
Casamento é sobre parceria e divisão, mas em tempos de confinamento o mergulho completo nesta arte é bem mais complexo. Precisamos dividir o espaço pessoal com o profissional, com o recreativo, com o educacional etc. O lugar onde vemos um filminho é o mesmo em que tentamos fazer algum exercício, fazemos as atividades da escola, a reunião com o chefe e os clientes, o encontrinho com os amigos. É aqui também que falamos da pandemia, da recessão e dos desmandos do presidente. É muito coisa pra um lugar só. É muita coisa pra um casamento só! Dividir nunca foi tão desafiador e as casas nunca foram tão pequenas. Pudera, se a gente considerar as horas que (a maioria de nós) passa fora de casa como um refresco, um respiro para que amemos nossos lares e tudo que dividimos com os parceiros e parceiras, veremos que o sentimento de overdose de divisão é legítimo. Saudade até do almoço no quilo infecto com os colegas do trabalho. Saudade do tempo do "cada um no seu quadrado".
Vai passar. E como disse uma amiga, "se a gente sair dessa alcoólatra, em crise no casamento, viciado em BBB e pobre é porque deu tudo certo!"
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.