Hoje começa o BBB20: meus pêsames
Lia Bock
21/01/2020 04h00
(iStock)
É chegado aquele momento do ano em que um programa de televisão mobiliza a população. Toda terça (que, aliás, vira dia sagrado), um Fla x Flu domina o Twitter. Todo dia é dia de notícias vazias sobre os tais confinados na casa de mais um Big Brother Brasil.
Verdade que nas últimas edições o programa trouxe à tona discussões importantes. Mas será mesmo que a gente precisa dele pra falar de assédio, política racial e outros assuntos tão fundamentais para a vida em sociedade? Convenhamos, há outras maneiras.
Veja mais
- Esqueça os estereótipos, Mia Khalifa está de véu e grinalda
- A sororidade morre quando a desonestidade aparece
- São os tiozinhos os que mais se comportam mal no Tinder
Hoje, o Brasil se divide em dois: de um lado, os fãs do BBB e as discussões desse microcosmo transformadas em notícia nacional; do outro, a turma do "não aguento mais" e do "lá vem tudo de novo" – onde, não escondo, eu me incluo.
Quando os sites começaram a noticiar a casa nova e especular sobre os participantes, já deu uma pontada no coração. Porque diferentemente dos outros programas de TV, o Big Brother não é algo restrito aos seus espectadores. Com a gigantesca cobertura da imprensa e a paixão (ou ódio) dos twitteiros, fica difícil tomar uma distância. O Big Brother entra em nossas vidas mesmo quando não é convidado, mesmo quando você não tem televisão ou gosto por realities.
As "notícias" sobre o que acontece na casa piscam nas homes dos principais portais, disputando espaço com os acontecimentos no governo, a destruição causada pela chuva e outras manchetes que de fato podemos chamar de notícia.
Há quem diga que o futebol também entra nesse time de factoides que nos tiram o foco do que realmente importa, mas pelo menos ele é constante, um circo sempre em movimento que gera empatia e envolvimento vitalício.
O que me incomoda com o BBB é frivolidade. Nossa capacidade de pegar fogo com algo tão vazio e passageiro. Isso diz muito sobre nós. Fala sobre nosso gosto por mergulhos apaixonados na superficialidade e sobre a nossa dependência por adrenalina, mesmo que ela seja absolutamente artificial. E, claro, fala sobre a nossa necessidade de polarização, de criar um "nós contra eles" mesmo nas pequenas coisas. Sim, porque para os fãs de BBB o programa não é só torcida. Há uma necessidade (falsamente) vital de derrotar o outro, que é sempre tido como pior.
Pensando no momento atual do nosso país, em que agonizamos na necessidade de criação de pontes de diálogo e respeito, penso que o BBB é um baita desserviço. Ele nos joga justamente naquela vibe na qual só há extremos e nada que crie uma convergência. Nos leva para aquele lugar onde vale o "eu gosto desse aqui" e quero que os outros se danem. E ainda, precisamos lembrar, ele dá um microfone e audiência 24 horas para gente que nem sempre tem boas coisas a dizer.
Então: hoje é terça-feira e vai começar tudo de novo.
Que tenhamos bom senso e discernimento para atravessar os meses desse vazio noticioso chamado Big Brother Brasil.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.