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Três vezes em que a mulher foi cidadã de segunda classe só na última semana

Lia Bock

01/10/2019 04h00

(iStock)

Três histórias que circularam por este portal na semana passada contornam a frágil posição da mulher na sociedade atual. Mudanças efetivas estão em curso, verdade, mas não podemos esquecer que o retrocesso pode ter a força de um tsunami. 

Vamos a elas: fomos "agraciados" com um vídeo em que o bispo Edir Macedo diz com todas as letras que a mulher não deve fazer faculdade para não ser mais inteligentes que o marido e que mulher muito inteligente não consegue se casar, segundo ele a coisa mais importante na vida. No vídeo, ele aponta com orgulho as filhas (que não fizeram faculdade) e seus maridos, "cabeças do casal". E ainda diz que queria ver as filhas casadas com "machos"; homem gentil, como queria sua esposa, nem pensar.

Vimos também uma menina de 16 anos que discursou na ONU ser escrachada, atacada com fake news de todas as estirpes e, claro, vimos machotes dizerem que ela é feia e precisa mesmo é de pinto. Greta Thunberg, querida, a forma como você lidou com a imaturidade masculina foi invejável. Mas que vergonha do ser humano que me deu. 

Por último, temos o caso da influenciadora Helô Gomes que, ao se defender dos toques inadequados e agressões verbais de um lutador de boxe num restaurante, levou um soco na cabeça. E, vejam, além de não ser defendida por ninguém que estava em volta, viu o dono do restaurante se negar a dar a gravação para "não criar mais problema". O vídeo já está com a polícia porque Helô não se rendeu ao "deixa disso", dito apenas quando já era tarde demais, e colocou a boca no trombone. Mas não sem antes ficar bem traumatizada com o soco e com a falta de empatia dos "amigos" que estavam em volta. 

Esse caldo de notícias tristes mostra quão frágeis são as conquistas femininas que, ao contrário do que prega o pastor, não visam que a mulher esteja sobre ninguém, mas apenas que seja tratada como igual. 

Com esses casos, conseguimos ver com clareza como setores da sociedade remam contra nossas conquistas. Do pastor que prega e convence um auditório imenso ao deputado e filho do presidente da república, que almeja a embaixada dos Estados Unidos (e atacou a Greta com fake news), passando pelos homens e mulheres de classe média alta que não se indignaram com a violência de um empresário e lutador de boxe contra uma mulher que ele não conhecia e que ele estava importunando: a resistência à igualdade de gênero está entre nós freando um movimento natural e mundial. Está entre nós fazendo com que seja preciso energia e força em dobro para que sejamos vistas em pé de igualdade.

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Eu sei que virão alguns críticos dizer que, se queremos igualdade, devemos nos aposentar com a mesma idade dos homens e parar de pedir pensão alimentícia no divórcio (eles sempre dizem isso). E, vejam, eu estou totalmente de acordo, mas, para que isso seja colocado em prática, vamos ter que passar primeiro por um "extreme make over" social. Porque pedir para cortar os poucos benefícios, quando ainda somos tratadas como seres de segunda linha e "rainhas do lar", só frisa a ignorância que ronda o assunto. 

Como essas notícias nos mostram, tem muito chão até os homens estarem aptos a pedir igualdade nos benefícios, mas tenham certeza que nossa meta é chegar lá. 

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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