Quem é o homem que vaza fotos íntimas da ex?
Lia Bock
26/06/2019 04h22
(iStock)
Mais um caso de ex-marido inconformado veio à tona. Indignado com o fim do casamento, o homem resolveu se vingar e postou fotos, telefone e dados da pessoa com quem viveu por três anos em sites de prostituição.
O roteiro dessa história, que aconteceu no Rio de Janeiro, é o mesmo de outras tantas em que ex-namorados ou ex-maridos cometem diversos crimes (contra a honra, calúnia, difamação, ameaça) em nome de uma única coisa: acabar com a mulher que não quer mais ficar com eles.
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Neste caso, como em muitos outros, aliás, a mulher quis ir embora justamente para se livrar de uma relação tóxica e violenta.
A pergunta que precisamos nos fazer é: por que este tipo de atitude é tão comum? O que leva os caras a acharem que devem ou podem destruir a mulher que os quer longe?
Alguns podem dizer que são "gente doente". Mas não é totalmente verdade. Esses homens estão entre nós e são bem mais "normais" do que reza a cartilha das famílias de bem. São aqueles que acham que a mulher tem que ser submissa no casamento e que cabe ao homem comandar a casa e a vida da esposa. São aqueles que, na dificuldade de amadurecer emocionalmente, se apegam em regras aceitas socialmente para justificar comportamentos deturpados.
Converse com qualquer um desses homens, e é capaz que ele te convença que "agiu por amor", que "perdeu a cabeça por amor" e que só quer "arrumar o casamento". Frases que diminuem em muito (não, criminalmente, é claro) os crimes que cometeram –lembrando que divulgação de imagem sem consentimento também é crime.
A raiz desse problema está na base da nossa cultura. Está na naturalização de comportamentos machistas, possessivos e violentos. Olhe em volta. Quantos casais você conhece que têm esse tipo de questão? Pergunto quantos, porque tenho certeza que todos nós conhecemos alguns. De distintos professores universitários à primos humildes do interior, passando por vizinhos que dirigem SUVs, amigos que trabalham com direitos humanos e quem sabe até, nós mesmos.
Aceitamos violências que parecem pequenas, mas que ao observarmos toda a fotografia, são a base de questões como vingança digital e feminicídios. Ciúme desmedido, tapas, controle da vida online, poda das relações de amizades ou familiares e qualquer tipo de proibição. Esses comportamentos são o indício de que algo está errado e que na ponta dessa história pode morar uma tragédia. Mas nós aceitamos essas coisas. Arrumamos desculpas para diminuir a gravidade dos fatos e naturalizamos o absurdo, dizendo muitas vezes que "é coisa de homem".
Não, isso não é coisa de homem. Isso é coisa de uma relação deturpada e cravada num comportamento machista que diminui a mulher e torna aceitável o que na frente de um juiz é crime.
Não que a justiça resolva todos os nossos problemas. Mas o exercício é válido. Não tem desculpa ou amor que justifique a violência ou a divulgação de imagens íntimas. Não tem sofrimento que justifique vinganças que destroem vidas.
Precisamos urgentemente parar de aceitar comportamentos violentos e, claro, punir de forma exemplar esses criminosos. Porque se não conseguimos apelar para o bom senso, apelemos para a cadeia.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.