Neste Dia das Mães eu quero... fazer cocô
Lia Bock
10/05/2019 04h00
(iStock)
Sim, neste glorioso Dia das Mães eu quero um tempo ilimitado sentada no trono, com a porta trancada, uma música de fundo e sem hora pra acabar.
Claro que eu poderia usar palavras mais suaves e dizer que gostaria de "um tempo só pra mim", mas a verdade é que essa expressão gourmetizada não passa a realidade dos fatos. Não falta só esse tempo contemplativo para sentir a unidade do meu ser e beber um vinho, ler um livro ou observar a paisagem. O que falta – pra mim e pra muitas mães – é tempo para as coisas básicas mesmo.
Depilação? Um sonho de consumo. Comer lentamente degustando o almoço? Projeto verão 2030. Cineminha? Só se não for filme infantil dublado. Cervejinha com as amigas? Quando chega o dia, só tenho força pra dormir.
Conclusão: existe muito amor na maternidade, mas glamour mesmo não há nenhum.
E é difícil até ir ao banheiro. Duvida? Começa pelo fato de que tem mil demandas das crianças, passa pela fase dois em que tem que olhar as bebês, ainda pequenas e chega na fase três que envolve o atraso. Ah, o atraso. Mães são bichos atrasados. Daí quando viu, tá na hora de sair pra escola (atrasada) ou pro trabalho (atrasada) e… não deu pra fazer cocô.
Mães vivem levando seu intestino cheio pra passear. Levam a bexiga cheia também, o cabelo sem lavar, a roupa sem passar, o dente sem escovar, uma meia de cada pé e por aí vai.
E olha: eu adoro ser mãe! Tenho quatro filhos e sou muito feliz assim. Mas não vou mentir pra vocês, dá um trabalho danado e tem aí uma, duas ou duzentas privações. Porque os filhos não vêm sempre com aquela pinta descolada e amorosa das hashtags do Instagram. Eles vêm com lição difícil pra fazer, dor de garanta pra curar, dente mole pra arrancar, perguntas estranhas pra responder e claro, bunda pra limpar. Porque, ironicamente, se tem uma coisa que mãe faz é limpar cocô.
"Mas, Lia, já já eles crescem você vai morrer de saudade" (o povo ama essa frase). Eu sei. Mas agora, só queria mesmo era ir no banheiro em paz.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.