O dia em que evitar a concepção virou aborto
Universa
07/02/2019 05h00
(iStock)
O que a pataquada do deputado Márcio Labre do PSL (que propôs uma lei que proíba DIU, pílulas anticoncepcionais e afins e depois retirou a proposta) deixou de lição?
Primeiro, vemos que muito do que disseram ser "renovação", é escandalosamente uma volta ao passado. Voltar para um lugar que conhecemos bem, onde a mulher é de cidadã de segundo escalão. relegada ao lar, ao cuidado da família e aos desmandos dos maridos.
Fora isso, dizer que métodos contraceptivos são abortivos demonstra uma negação de décadas de ciência, inteligência e controle de natalidade. Eu chamaria até de ignorância seletiva (extrema), quando você escolhe não saber de um assunto (teoricamente) para o seu próprio bem.
E por último mas não menos importante, a retirada do projeto de lei, mostra um despreparo em lidar com a coisa pública e em, de fato, representar a sociedade (ou uma parcela dela).
Como alguém pode considerar pílulas, DIU, implantes anticoncepcionais e pílula do dia seguinte abortivos? Será que Márcio não tinha nenhum amigo médico? Nenhum enfermeiro? Uma mulher esclarecida ao menos que lhe contasse a verdade? Que lhe explicasse como se forma a vida e que, no extremo, tudo é vida. Cada planta, cada tecido, cada bactéria.
Segundo o deputado essa lei visa proteger a saúde da mulher e defender a vida.
Mas gente, que vida que uma lei dessas defende? Imagina a mulherada tendo um filho atrás do outro? Voltaríamos uns 100 anos na linha do tempo. Imagina a gente não poder escolher quando engravidar? A proposta nos remete a um futuro tão distópico que na minha cabeça só vem cenas apocalípticas.
Não basta criminalizar e o aborto dizendo que embrião é gente? Agora os caras querem nos dizer que evitar a concepção é um ato abortivo? Jaja vem alguém dizer que não pode camisinha. Imagina?
Senhor Labre, contenha-se! Porque desse jeito acaba ficando feio demais. Evitar que o óvulo e o espermatozóide fecundem é uma das grandes descobertas da humanidade. São coisas como essa que nos diferem de outros animais e que nos possibilitaram chegar na lua, ao fundo do mar e fazer cirurgia sem corte.
Respeite a vida, mas respeite também o bom senso e a ciência, vai fazer bem pro senhor.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.