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Por que é tão difícil dizer a verdade na hora da separação?

Lia Bock

01/12/2018 05h00

(iStock)

Por mais lindos e harmônicos que sejam os casamentos, eles chegam ao fim. E não faça cara de que esta blogueira está trazendo mau agouro. Está nos dados do IBGE, que um terço dos matrimônios termina em separação (entre 1984 e 2016 vimos um aumento de 17% nos casamentos. Já nos divórcios, o aumento foi de 269%. Glupt. Pois é). Por mais estranho que seja, vale a pena falar do assunto mesmo quando o gosto na boca é de "e foram felizes para sempre".

Pois bem, hoje me disponho a isso. E a pergunta é: por que a maioria das pessoas não têm coragem de falar a verdade na hora de terminar? Digo: mandar a real pra valer, sem papas na língua. E vejam que não estou levando em conta aquele (velho) blablabla do "o problema não é você. Sou eu", porque já deixamos lá no século 20, né, amores? Mas percebo que muita gente ainda procura palavras e cores bonitas para pintar este trecho cinza da vida.

Por que é tão difícil dizer: 'me decepcionei com você e não te quero do meu lado?' Ou: 'me apaixonei e quero viver essa nova história'? Já estamos nos separando mesmo, já estamos desfazendo as juras eternas e sabemos que vamos adentrar o terreno pantanoso da divisão dos bens, então por que preferimos a política da boa vizinhança?

A verdade pode ser muito dura, mas de alguma forma é a chave para a libertação. Um casamento que acaba sobre argumentos falsos pode não se esgotar como deve ou gerar as metástases advindas da mentira. Sim, porque a mentira não só tem perna curta como é tóxica.

Vejo que uma parcela desse exército de divorciados não fala a verdade tendo em mente 'evitar um problema maior'. Às vezes, são movidos por uma sincera vontade de não machucar o outro ou pela praticidade de não criar uma celeuma grande para chegar ao mesmo ponto: o fim. Mas puxa… uma pessoa que passou anos do nosso lado e sabe como se mexe cada ruga do nossos rosto… vocês acham mesmo que ela não vai sentir o cheiro das meias verdades? Não seria mais adequado assumir a humanidade imperfeita que há em nós e escancarar nossos reais motivos?

Esse lance de que podemos evitar a dor do outro com um falsete bem colocado pode levar a uma dor em dobro. E, claro, acabar com qualquer chance de uma boa relação pós mortem do matrimônio.

Outra coisa que acontece com frequência é as pessoas terem vergonha da verdade e por isso recorrem a um storytline rebuscado para dar cabo do que não querem mais. E muitas vezes elas mesmas se convencem de que o que estão dizendo é verdade. Porque a melhor mentira é aquela que engana a nós mesmo. Repetem o blablabla como um mantra até que vire fato. De qualquer forma, ter vergonha dos nossos sentimentos é uma merda. E não há narrativa capaz de recriar a vida como ela é.

Divórcios são tristes, duvidosos, cheios de imprevistos e corações partidos. Encarar este fato de peito aberto pode nos levar a um lugar mais pleno ali adiante.

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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