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Morreu do quê? De um amor que nunca existiu

Lia Bock

30/06/2018 14h07

(iStock)

Dizem por aí que é muito raro alguém morrer de amor. Mas a verdade é que várias vezes alguma coisa em nós morre, sim, por este nobre motivo. E a pior das mortes é com certeza aquela que vem do vazio repentino. De um amor que você tinha certeza que estava ali mas, de repente, era só invenção – do outro, porque em você era real. No vácuo deixado, o amor que há em nós despenca e algo morre nessa queda brutal.

Às vezes morre a nossa crença na humanidade, noutras morre nossa vontade de comer ou ainda, morre um pedaço importante do coração para que sigamos sendo capazes de amar. Grave.

Conclusão: inventar um amor é muito lindo quando cantado pelo Cazuza ou quando inventamos sozinhos e isso não prejudica ninguém. Mas quando alguém inventa um amor e despeja essa farsa em nós… é a mais pura sacanagem.

E olha que existem farsas amorosas muito bem feitas. Com pedido de casamento, passagem para o paraíso comprada e o escambau. Tem farsa que dá nome pros futuros filhos e apresenta pra família. Eu já escutei a frase "essa é a mulher da minha vida", da mesma boca que, semanas depois teve que dizer (ops) não era bem isso.

Acho que muita gente que inventa esses amores arrebatadores não sabe que está fazendo isso. Inventam pra elas inclusive. Chegam a acreditar, de verdade, que this is the one. Mas, veja, isso não diminui a culpa. Me desculpem. Baita falta de autoconhecimento. Gente com dezenas de amores nas costas que não sabe quando está amando e quando está inventando um amor? Pelo amor de deus. Na dúvida, vai mas devagar, até a certeza surgir.

No fundo é muita carência misturada com uma boa dose de irresponsabilidade e uma pitada de "foda-se quem estiver no caminho desse amor inexistente". Tenho certeza que as pessoas fazem isso pra se salvar (ou tentar se salvar) de alguma dor, de alguma mágoa, de algum outro amor encrespado do passado. Pobre do interlocutor, que muitas vezes ama genuinamente esse 171 do romance. Pobre de quem não percebe a cilada e cai de cabeça no que parecia uma piscina cheia sentimentos maravilhosos, mas era só ilusão. Um truque de luz.

E dá uma vergonha danada ter que encarar a sociedade e explicar que, puxa, era lindo, mas não era verdade. Dá uma tristeza profunda. É a mesma sensação que temos depois de um assalto. Te levaram alguma coisa e não há nada que possa ser feito. Oxalá não tenham levado a vida ou a vontade de seguir vivendo. Oxalá tenham levado só parte do todo, deixando ainda o básico para que possamos nos reerguer e seguir acreditando no amor.

 

 

 

 

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Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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