Sabe aquela moça de família? Não existe mais
Lia Bock
14/03/2018 10h50
Pois bem: aquela moça que muitos achavam ser o protótipo da mulher perfeita, a futura esposa de um grande homem, a mãe resignada que cozinha como ninguém se desintegrou. Talvez tenha se afogado no descaso da igreja com os casos de abuso, estupro e assassinato. (Gente, assistam: The Keepers. Série documental da Netflix). Ou talvez, ela tenha apenas morrido de tédio.
Fato é que essa moça saiu de moda. Ainda bem. Porque como era chata, desinteressante e submissa. Credo. Pode até ser que existam alguns exemplares dela por aí, desatualizada que só deve estar afundada no sofá ou fazendo o número da voyeur de Instagram.
Quem curte uma mocinha sonsa, apagada que fala francês e serve o marido adúltero? E pior, quem quer ser essa moça que faz aula de etiqueta e nunca diz o que de fato está pensando?
A nova moça de família é agilizada, sagaz, viva! Gosta da casa cheia (afinal é de família). Junta os pais com os amigos e discute política no jantar. Convida o marido pra assistir seriado erótico e tem o sagrado dia da cervejinha com as amigas.
Talvez essa nova moça não cozinhe muito bem e silencie os grupos da escola no WhatsApp, mas pede um delivery como ninguém e levanta às 6h da matina de ressaca pra fazer a lancheira das crianças. Talvez ela deixe a pia dormir lotada, mas só porque a festa foi boa. Compra orgânico (quando dá), serve o marido (no dia do aniversário dele), canta em francês (Frère Jacques, dormez–vous), liga pros pais (quase sempre) e claro, sofre um pouco achando que poderia fazer mais.
Eu diria que estamos diante de exemplares esplêndidos de toda uma geração de maravilhosas "lokas de família". Que assim, com K não tem nada a ver com a tal louca/histérica que a macharada insiste em adjetivar. Mulheres porretas, comprometidas com seu conglomerado familiar, leais a seus princípios e que sabem viver (sorrir e remendar) a vida.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.