Para que servem os vídeos virais do WhatsApp?
Lia Bock
22/02/2018 10h51
(iStock)
Não, não estou aqui pra falar das duas velhinhas tentando fazer uma selfie no celular e nem dos ursos pandas agarrando a perna da cuidadora. Fofuras, quando não são bem-vindas, a gente ignora e pronto. Tô aqui pra falar do grupo de onças devorando um homem, da subcelebridade transando com o (ex)namorado em casa e também daquela mulher chupando um cara até vomitar.
Tô aqui pra falar das escrotices que as pessoas mandam via Whatsapp pra… pra que mesmo?
A única coisa que me ocorre é que quem espalha esse tipo de vídeo em grupos cujo o mote não é claramente apenas besteiras, trolagens e escatologias só pode estar querendo uma coisa: incomodar. Porque se tem uma coisa que as pessoas gostam é mexer com as outras – no mau sentido.
Porque dividir uma coisa dessas com quem não pediu? Existem locais na internet que a gente vai só pra isso. Existem portais de notícia com espaço reservado para esse tipo de conteúdo e com título explicativo: "veja a cena chocante dos tigres devorando o vigia do parque". Pronto: clica quem quer, se esquiva quem tem bom senso.
Mas no celular não, esses vídeos vêm sem aviso, sem título e sem propósito. Pode ser a filha balançando no parquinho ou um homem tendo o braço devorado. Vem, justamente, pra te pegar desprevenido.
Correntes e vídeo com ideologia política já são complicados. Coisa que a gente manda de forma certeira pra aqueles que sabidamente vão gostar ou, ao menos, não vão se incomodar. Mas esses tais vídeos com pinta de proibidos, de secretos que, geralmente trazem crimes (distribuir conteúdo sexual vazado é crime), mortes ou escatologias dos mais variados tipos deveriam ser pessoais e intransferíveis. "Ininviáveis", pra inventar um neologismo moderno.
E vocês já perceberam que esses vídeos vêm sempre nos grupos? Como se fulaninho, além de incomodar, quisesse se exibir. Dizer: "olha o que eu vi primeiro e vou mostrar pra vocês todos". Amigo, não passou pela sua cabeça que talvez as pessoas deste grupo da faculdade (do trabalho, da família, da escola) não queiram assistir essas coisas?
Nem todo mundo tem a morbidade correndo nas veias pra ficar vendo gente morrer. Nem todo mundo é fã de 'Jackass' e 'vídeo cacetadas' afins. Nem todo mundo tá interessando no novo vídeo de sexo que algum idiota ressentido vazou. Lide com isso.
Sobre a autora
Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock
Sobre o blog
Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.