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Lia Bock

Fica tranquilo. Esse amor vai doer pra sempre

Lia Bock

18/01/2019 05h00

(iStock)

Algumas dores de amor são fortes, nos acompanham por um período prolongado e, não raro, atravancam o aprofundamento de novas relações. São dores que com tempo e dedicação passam (amém!).

Mas tem uma categoria de dor que é tipo cicatriz, depois de instalada, vai com a gente pra sempre. Essas, meus amores, a gente tem que lavar, cuidar e deixar fechar da melhor maneira, mas sem a ilusão de que vamos nos livrar dela.

Porque o problema não é levar uma dor conosco, mas sim, se apegar nesta ilusão de que podemos nos livrar dela.

É esse querer apagar, esse querer não sentir mais que nos corrói.

Muito melhor aceitar que aquele amor deixou uma ferida e que ela vai conosco para os flertes nas praias da Bahia, para o casamento com o novo amor e até para o hospital, quando precisarmos de atendimento na terceira idade.

Porque algumas dores são mais que tristeza (que a gente supera). Algumas dores são traumas, são medos e todo um sonho de vida que vimos escorrer pelos dedos. Coisa grande mesmo. E acredite, aceitar que levaremos conosco esse sentimento nos liberta da ansiedade e daquele medo de não conseguirmos nos livrar dela. Saber que ela vai nos acompanhar daqui até o infinito (seja isso enquanto dure) nos permite empacotá-la da melhor maneira para seguir adiante.

E veja: empacotar e guardar uma dor é bem diferente de se livrar dela.

Muita gente luta com dores eternas como uma criança que tenta nocautear o joão bobo. Ficam extenuados, sem energia e no fundo, se distanciam do que mais querem, já que ao se esforçar para se livrar da dor, acabam só falando e pensando nela.

A incongruência está aí.

Para dores de amor vale a máxima "falem bem ou falem mal, falem de mim". Quanto mais a gente briga com o sentimento, quanto mais se aborrece com ele, mas notamos sua presença e nos intoxicamos com ele. Não é raro ver gente dolorida que quer superar uma relação acabada falando sem parar do ex, do término e da própria dor. A cena que me vem em mente é a pessoa segurando aquele assunto com garras firmes e gritando 'quero me livrar de você'.

Conversar pra digerir é importante, claro. Mas perceber que a cicatriz veio pra ficar nos dá a tranquilidade necessária para fazer dessa dor o menor mal possível.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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