Nas redes sociais somos todos fake news
As redes sociais são uma janela para dentro de nossas vidas. Gente que não conhecemos pode saber bastante sobre nós dando uma passeada por fotos que vão do último final de semana até três vidas passadas, dando uma lida rápida nos textos que compartilhamos e nas frases de efeito que achamos por bem postar. Isso, claro, ajuda eventuais crushes a se interessarem (ou não) por nós.
Mas a verdade é que postamos o que queremos ser e não exatamente o que somos. E só aquela aproximação tête-à-tête consegue revelar nosso verdadeiro eu. E, ouso dizer, mesmo essa pode deixar muito mistério pelo caminho. No tipo de casinho indoors, como costumo chamar as relações que ainda não ganharam as ruas e os programas públicos, conseguimos tirar o melhor de nós. Evitamos alguns assuntos, cozinhamos ao som de uma playlist feita sob encomenda e deixamos nossos diabinhos, nossas opiniões mais fortes e aquelas reações destemperadas trancados no porão.
É quando ganhamos o mundo em dupla, que a coisa muda de figura. É no jeito que tratamos os outros, na forma como nos esquivamos (ou mergulhamos) de uma discussão politica, no enrolar ou afastar do nosso abraço em amigos encontrados sem querer e, claro, no modo como apresentamos a pessoa ao lado, que expomos aquele eu que não está nas redes. E aí, não há feed harmônico que nos esconda.
Seja numa balada, num restaurante, no cinema ou num quiproquó familiar, uma hora insegurança, nervosismo, excesso de confiança, arrogância, empáfia, falta de empatia, falta de argumento, grosseria… aparecem. E, claro, aparece também gentileza, generosidade, empatia, inteligência emocional. Mas nesse caso, tá fácil. O problema é quando cai a máscara e algo novo e não muito bonito surge.
O jeito como o sujeito trata o garçom, as amigas, a mãe. O jeito como a moça trata o ex-marido, o porteiro, a atendente do laboratório. A reação a uma provocação, ao roubo do celular ou cancelamento do Uber. E aí que moramos nós. É isso que importa, é isso que marca.
Trocando em miúdos: não adianta encher as redes de #gratidão e enfiar a mão na buzina feito um delinquente. Não adianta encher o feed de foto dos sobrinhos e reclamar do bebê chorando no avião. Não adianta pregar pelo fim da violência e partir pra cima de quem discorda de você.
Somos o que acontece entre uma postagem e outra e não há rede social que nos salve do mundo off-line. Criar uma persona online pode até ser divertido, mas fingir que somos aquilo só nos torna uma fake news de nós mesmos. É importante termos em mente que o que gostaríamos de ser ou a edição milimétrica de nossa vida não é o que de fato somos. O que você é (de verdade) aparece nas esquinas da vida, sem querer, sem filtro e sem pensar.
A ideia é brega, mas é essa mesmo: tentar ser (na rua, na chuva ou na fazenda) o pôr do sol que postamos no Instagram; aquele drink refrescante e o sorriso leve pro espelho do elevador.
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