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Lia Bock

Por que algumas pessoas têm tanta dificuldade de associar armas a mortes?

Lia Bock

20/05/2018 09h23

(iStock)

Duas notícias dividiam a home deste portal entre ontem e hoje. A da jovem Kaitlin Bennett que foi na formatura com um fuzil em Ohio e a do atirador de 17 anos Dimitrios Pagourtzis que matou dez pessoas numa escola no Texas. Ambas as histórias nos Estados Unidos.

Eu não conheço Kaitlin e suas motivações para defender o porte de armas. Mas fico me perguntando o que mais ela (Donald Trump e um monte de americanos) precisam para entender que esse negócio de liberar as armas não é legal.

Alguém pode retrucar: "mas aqui aqui temos uma política de proibição das armas e matamos cinco vezes mais do que nos EUA". Pois justamente! Imagine se fossem liberadas (como quer a bancada a bala). Talvez muitos de nós, colunistas e blogueiros não estaríamos aqui para comentar essa história. De fato o Brasil tem menos armas em circulação do que os EUA, mas mais mortes. Aqui entram outros fatores como desigualdade social e problemas sérios de educação, por exemplo. Nosso buraco é muito mais em baixo.

Um texto da colega Maria Carolina Trevisan trouxe uma comparação entre os EUA e outros países desenvolvidos. Talvez essa seja mais elucidativa: Um estudo publicado no American Journal of Medicine mostrou a chance de um americano morrer por arma de fogo é dez vezes maior do que a dos habitantes de outros países com índice sócio econômico parecido. A pesquisa demonstrou ainda que a chance de um jovem entre 15 e 24 anos sofrer homicídio por arma de fogo era 49 vezes maior no país. Repare, segundo estudo: 82% das mortes por armas de fogo dos países desenvolvidos acontecem em terras estadunidenses.

Essa coisa do direito individual (de ter armas, no caso) passar por cima dos direitos coletivos e do bem estar geral é uma loucura. A menina que defende a manutenção da lei para poder entrar armada no campus universitário me soa ingênua ou sonsa – pra dizer o mínimo. Querida, seus colegas, seus irmãos, seu possível estagiário brilhante estão sendo assassinados por essas armas que você defende. Não é muito óbvio?

Com essas duas notícias dividindo a home do UOL, não associar a facilidade com que um americano compra uma arma aos contínuos assassinatos em massa é como não querer encaixar a última peça do quebra cabeça para não ficar órfão dele.

Meus mais profundos sentimentos para (mais) essas famílias que tiveram seus jovens mortos. Meus pêsames também para Kaitlin, que ao seu mobilizar em prol das armas, corrobora com essas mortes.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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