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Lia Bock

Dar flores é o fast-food do romantismo

Lia Bock

14/06/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

 

A pessoa está apaixonada e pensa: vou fazer algo romântico. Primeira coisa que vem à cabeça: flores! Eita gente preguiçosa.

Mas não é só a falta de criatividade que me espanta, realmente não sei de onde as pessoas tiraram que dar flores é por si só um ato romântico. Dar flores é bonito, gentil, solidário e tem aquele caráter pacificador maravilhoso. Damos flores no aniversário de alguém querido, damos flores para o prefeito truculento, damos flores para uma pessoa que nos ajudou, quando alguém recebe um prêmio, damos flores para nós mesmos para deixar a casa feliz, damos flores para os mortos. Acho tudo lindo. Mas e o romantismo com isso?

Do alto da minha petulância, acho flores o típico romantismo pronta-entrega. Fast-food do amor.

Sei que essa opinião pode me custar todas as flores que talvez eu recebesse ao longo da vida – principalmente porque meu aniversário está perto e eu adoro receber flores no aniversário. Mas vejam: não estou falando mal das flores em si e nem do ato gentil e carinhoso de dar flores. Só me incomoda esse negócio de que "dar flores é muito romântico". Ponto.

Dar flores pode ser romântico (diferença brutal com essa nova conjugação do verbo). Escrever um poema, convidar para um passeio diferente, fazer massagem a luz de velas, esquentar o pé num dia frio também pode ser muito romântico. Olha quanta coisa! E tem bem mais: ler o trecho de um livro lindo que te fez pensar no outro, criar uma playlist pra ouvir a dois, cantar uma musiquinha no áudio do whatsapp, convidar para uma viagem especial, comprar uma caixinha de música com aquela canção que o outro gosta também podem entrar na lista dos atos atrelados ao romantismo.

Eu, pessoalmente, acho romântico quando tenho as minhas tristezas acolhidas ou quando a pessoinha querida faz a comida que gosto. Acho romântico também pedir pessoas em casamento (já pedi uma turma, dentre os quais muitas amigas e amigos. Ato simbólico). Cada um tem seu jeito de ser romântico (e esse jeito pode até ser com flores).

O que me incomoda é a preguiça. Se a pessoa gosta de flor, ótimo, se joga nas tulipas, mas não vamos, por favor, transformar a flor no símbolo máximo do romantismo. Deixemos esse símbolo no passado junto com as mulheres que faziam o jantar resignadas e tinham sua existência resumida ao cuidado do lar.

Romantismo é comoção. E existem muitas (muitas mesmo) maneiras de comover as pessoas. Uma delas (nem tão especial assim) passa pela floricultura.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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