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Lia Bock

Esqueça as metas para 2020: troque promessas por um potinho da felicidade

Lia Bock

31/12/2019 04h00

(iStock)

Ser mais saudável, ficar mais com as crianças, entrar na cachoeira, dormir melhor, cozinhar em casa. É muito comum que a gente chegue no 31 de dezembro com uma lista enorme de coisas que queremos para o ano seguinte. E tome ansiedade e tome pensar no futuro antes mesmo de digerir o que passou. E olha que passou foi coisa. Pois pausemos um instante.

Levanta a mão quem acha que 2019 foi um ano difícil. Teve polarização, profundos rachas ideológicos, medo, injustiças, crise, desastres ecológicos e até morte de ídolo por motivo besta. Toda essa intensidade mexe com a gente por dentro e por fora. Não é à toa que as previsões astrológicas sofreram um grande boom. Tem muita gente buscando nos astros (e também nas divindades) respostas e explicações para o que vem passando. 

É louco pensar como o ano foi intenso para todo mundo. Tanto na esfera macro, como na esfera micro. Só pra registrar, escrevo este texto com o pé pra cima, depois de uma fratura no dia 20, véspera das férias coletivas no trabalho. 

E é por isso que pergunto: como terminar um ano que pareceu uma década no quesito acontecimentos bizarros? Como seguir tendo esperança e acreditando que coisas boas acontecem? Não tem lista de metas que resolva essa questão, não é mesmo?

Os questionamentos podem parecer bestas para quem não tomou na cabeça diversas vezes em 2019 ou para os que, entorpecidos por substâncias controladas, acham sempre "tudo ótimo". Mas, para aqueles que engoliram o ano a seco e, como num mar revolto, foram surpreendidos por diversos caldos, emanar uma vibe boa não é tarefa simples. 

No Instagram, todo mundo parece pleno com o pé na areia e hashtags solares. Mais não há nada de errado se #gratidão não está no seu vocabulário de Réveillon.

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Há mais de uma década, ganhei uma história em quadrinhos feita à mão por um casal de amigos amados. Era a história da "Flor de Natal", que num ato corajoso sugava todas as coisas ruins do ano numa expiração profunda, para em seguida colocar pra fora uma leve doçura colorida. A analogia é linda, porque nos liberta da necessidade de afastar o mal. Isso serve para o fim de 2019. Porque, se não temos como nos livrar de tudo de estranho que nos acontece, que suguemos com firmeza para que dentro de nós esses acontecimentos operem alguma mudança e possamos devolver para o mundo o que há de bom em nós. Porque sempre há!

E aqui entra uma dica fofa e com toque mágico que achei no blog da Estéfi Machado. É um ritual maravilhoso para começar hoje, no último dia do ano. Na verdade é "só" um potinho que vai nos acompanhar durante os 365 dias de 2020. Perto dele você deixa uma caneta e papeizinhos. E toda vez que acontecer alguma coisa que te faça feliz, escreva no papel e ponha no pote. Ela diz: "Não precisa ser o emprego dos sonhos, a notícia da vida, nem um beijo de cinema. Pode ser a lembrança de um café com uma grande amiga, um trabalho que deu orgulho, um abraço na porta da escola, um esbarrão no supermercado ou um trocadilho infame de filho na hora de dormir". 

No último dia do ano, você abre todos, lendo um a um com atenção. É quentinho no coração na certa! E, claro, você pode adaptar o ritual como quiser. Mas o importante aqui é que não estamos pedindo nada ou fazendo listas ambiciosas para o ano que se anuncia, estamos apenas lembrando que o ano que passou, por mais difícil que tenha sido, teve momentos bons, de alegria, de plenitude e de leveza. 

Como eu não fiz esse potinho em 2019, puxei de memória mesmo algumas coisas. E eu chorei. Quanta potência, quanta intensidade, quanta novidade 2019 me trouxe! Com o pé pra cima e duas bebês com febre, deixei escapar as coisas mais importantes: as boas, as sensíveis, as que nos fazem capazes de expirar um ar pesado e podre e inspirar a mais leve das esperanças. 

Sigamos de cabeça erguida, porque olhando pra baixo só vemos o pé quebrado, perdendo assim o pôr do sol e o sorriso dos filhos, um ato gentil e, claro, as verdades do mundo cão que precisam ser sugadas e repostas por energia boa. Coisa que só nós, humanos e flores de Natal, podemos fazer. 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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