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Lia Bock

Troque o vidro fumê do carro pelo vento na cara do patinete

Universa

13/08/2019 04h00

(iStock)

Os patinetes elétricos alugados via app na rua são uma mão na roda. Encurtam caminhos e evitam o trânsito, mas a principal vantagem é a criação de uma outra relação com a cidade. Sobre os patinetes, nossa relação com o espaço se aproxima da de um pedestre ou ciclista, só quem com mais agilidade e sem suor. Para paulistanos, habituados a se blindar com vidro fumê e ar-condicionado, é uma transformação e tanto.

Voltamos a ser humanos no espaço público e isso tem impacto não só na sensação de pertencimento como na relação com os outros, com as belezas urbanas e com os problemas também, que passam a ser um pouco mais nossos. Sentimos a temperatura do dia e as estações do ano, nos abastecemos de vitamina D e de uma certa humildade. Sim, porque quando entre a nossa pele e o mundo não há nada, deixamos o que vem de fora nos atingir. Pode ser o sol, pode ser a chuva, um idoso precisando de auxílio ou até mesmo o medo. E isso não é necessariamente ruim, porque sentir é bom!

Outro dia uma amora caiu no meu ombro e manchou o casaco bege, claro que eu não fiquei feliz com a mancha, mas algo nesta corriqueira cena de quem transita a céu aberto me trouxe um sentimento bom.

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Vocês podem dizer: mas muita gente anda a pé ou de bicicleta. Sim, verdade. Mas tenho reparado que entre os adeptos dos patinetes há muitos que estariam dentro de um táxi ou de um Uber. Atrai essa turma, claro, porque são esses que podem pagar pelas corridas. Verdade seja dita: o translado no patinete não é nada barato.

Aliás, esse é o único defeito dos patinetes. São caros demais e, se estamos em duas ou mais pessoas, deixam de valer a pena frente a um Uber, por exemplo.

Mas os patinetes não são só meios de transporte. Eles são uma opção de passeio, de curtição. E não tô falando só de domingo pra dar a volta na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, ou passear pela Vila Madalena, em São Paulo. Estou falando de aproveitar o passeio enquanto você se dirige ao trabalho, ao médico, à faculdade e afins.

Porque a gente tem essa mania de achar que pra aproveitar a cidade é preciso ser final de semana, feriado ou férias. E a verdade é que podemos (e devemos) fazer isso o tempo todo.
É por isso que gosto dos patinetes e também das bicicletas de aluguel. Eles nos mostram que a cidade é nossa e aproveitá-la não é questão de tempo, dia ou hora marcada.

"Mas não é perigoso?". Eu costumo dizer que viver é perigoso, mas vou me aprofundar aqui para não ser leviana.

Sim, existe risco, assim como andar a pé, andar de bicicleta ou entrar no mar em Ipanema. O capacete é obrigatório (apesar de, muitas vezes, o uso do patinete não ser planejado e ficar impossível recorrer a esse item de segurança) e, para os que não são exatamente habilidosos, vale demais um treino cauteloso antes do uso prático.

O freio na mão é um perigo, já que as pessoas costumam colocar a mesma intensidade do que no acelerador, e isso faz com que o patinete pare repentinamente, jogando a pessoa lá na frente. Usar o freio do pé é mais orgânico, eu diria. Já teve gente com braço e dente quebrado? Sim, o patinete não é brinquedo. É meio de transporte e nele a responsabilidade é toda nossa.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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