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Lia Bock

Por que devemos amar o e-mail!

Lia Bock

30/03/2018 08h00

(iStock)

Quando abri meu primeiro e-mail, há exatos 20 anos, costumava checar se havia novas mensagens uma vez a cada três dias. Eu estava morando fora e recebia e-mails dos meus pais e de um ou outro amigo que também estava conectado. Era uma emoção ir até a lan house mais próxima e me comunicar de forma tão expressa com as pessoas amadas.

Dois anos depois, já trabalhando na redação de uma grande revista semanal, eu tinha um e-mail de trabalho e outro pessoal e checava ambos umas três vezes ao dia. Isso quando não estava na rua, porque o celular, um tijolão, só trabalhava com ligações e SMS (e olhe lá). Neste tempo já era raro escutar das pessoas a frase "eu não tenho e-mail". Porque e-mail é uma coisa maravilhosa.

Mesmo hoje, quando recebo releases de assuntos que não são assuntos e propagandas de marcas que eu não conheço, sigo achando o e-mail legal. Checo incontáveis vezes ao dia. Mas isso não significa que eu os responda no mesmo instante. Essa é a maravilha dessa forma de comunicação! Também não espero que uma pessoa para quem enviei um pedido de entrevista (ou uma carta de amor) me retorne no mesmo dia. E-mail hoje é comunicação lenta, aquela pra gente ler com calma e pensar a respeito, certo?

Dia desses recebi a resposta de um e-mail enviado 11 horas antes com um pedido de desculpas pela demora no retorno. Demora? Quase respondi: "isso não é demora, isso é vida". Será que estamos perdendo o senso de urgência ou estamos influenciados pela instantaneidade do universo?

Se fosse uma mensagem de WhatsApp, vá lá a pessoa se desculpar pelas horinha no vácuo, mas pelo e-mail? Bora fazer um esforço conjunto para manter este bastião do tempo minimamente moroso?

Dizem que o e-mail vai morrer, mas eu duvido que aconteça a tempo de vermos este sepultamento – pelo menos eu que já estou matematicamente chegando perto da metade da vida. Mas também não vejo porque transformar esta maravilhosa forma de comunicação em algo instantâneo.

Com o desuso dos correios para envio de carta, o e-mail se tornou o meio pelo qual enviamos mensagens de amor, de ódio, de dor, de saudade. É pelo e-mail que dizemos as coisas importantes. É nele que perguntamos se a pessoa está bem e contamos, antes de entrar no assunto principal, como vamos do lado cá.

Verdade que os áudios via Facebook e Whats roubaram um pouco o público, mas o e-mail ainda deixa espaço para a arte da escrita e das palavras sem abreviaturas.

Fora que e-mail é a resistência da privacidade do trabalhador. Aquele que o chefe pode mandar a hora que quiser, mas fulano só vai ver em horário apropriado. Amém.

Todo meu amor ao e-mail, esse último suspiro da vida não imediata e instantânea.

 

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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