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Lia Bock

Sabe a fórmula de Bhaskara, mas não sabe o que é direitos humanos

Lia Bock

19/03/2018 16h03

(iStock)

Estava aqui lendo as falsas notícias desmentidas sobre a vereadora carioca assassinada, Marielle Franco, e resolvi ir mais fundo na lama. Entrei em alguns posts de Facebook sobre o crime para tentar entender os argumentos que algumas pessoas colocam.

Me choquei com a falta de informação e não entendi muita coisa.

Mas imediatamente me veio em mente a fórmula de Bhaskara. O que uma coisa tem a ver com a outra? Explico.

Me questionei o que as escolas brasileiras têm ensinado a seus alunos para eles virarem adultos tão obtusos incapazes de entender o conceito de direitos humanos. Daí lembrei da tal fórmula que segundo diversos sites "é considerada bastante útil para os acadêmicos da área de exatas e utilizada sempre que aparecer uma expressão que tenha uma incógnita elevada ao quadrado, ou seja, equações de fórmula geral ax²+bx+c=0, com seus coeficientes reais e diferente de zero". E, quando nós, outros todos do mundo, que não somos acadêmicos da área de exatas, usamos isso mesmo?

Por que as escolas enfiam essas coisas nas cabeças dos nossos jovens e se esquecem de dizer que direitos humanos não é "proteger bandido" ou "passar a mão na cabeça de pobre preguiçoso"?

Pelo amor de Deus, precisamos rever o rumo do nosso ensino. E não venha me dizer que essas coisas a gente deve aprender em casa, porque não é verdade. Esse é exatamente o tipo de ensinamento que deveríamos aprender na escola. Respeito é o maior dos ensinamentos. E se os professores são capazes de enfiar fórmulas quase gráficas na cabeça do ser humano, não deve ser nada difícil colocar também conceitos de civilidade.

Lendo os comentários escabrosos e sem embasamento social nenhum senti uma enorme vontade de perguntar àquelas pessoas onde elas estudaram e ir a cada uma dessas escolas e mostrar que tipo de gente eles estão botando no mundo. Não é possível que não se envergonhem.

Minha vontade era chamar cada uma dessas escolas pra conversar, do mesmo jeito que muitas chamam os pais para reclamar do comportamento de seus filhos. Eu diria: "olha, dona escola, a situação está bem complicada. Seu ensino está disseminando burrice, ódio e fascismo. A gente tenta fazer alguma coisa em casa, mas a escola precisa ajudar. É preciso limites claros para que esses alunos não destruam o Brasil".

Porque enquanto soubermos recitar que a soma dos quadrados do cateto corresponde ao quadrado da hipotenusa, mas não soubermos que direitos humanos são inerentes a todos os seres humanos, independente de raça, sexo, nacionalidade, religião, classe social ou qualquer outra condição, seguiremos afundando na lama das fake news e do ódio que mata.

 

 

 

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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