Sabe aquela moça de família? Não existe mais
Estamos em 2018, uma semana pós dia da mulher. Dia que foi de luta, de manifestação e conscientização. Lembro das jovens aguerridas e doces e me pego de sobressalto pensando que a tal moça de família datou. Sim! Ficou pra trás num tempo em que não acreditávamos que dava pra fazer diferente. Um tempo em que sucesso profissional não combinava com vida familiar e ficar viúva era a única forma de se livrar de um marido violento.
Pois bem: aquela moça que muitos achavam ser o protótipo da mulher perfeita, a futura esposa de um grande homem, a mãe resignada que cozinha como ninguém se desintegrou. Talvez tenha se afogado no descaso da igreja com os casos de abuso, estupro e assassinato. (Gente, assistam: The Keepers. Série documental da Netflix). Ou talvez, ela tenha apenas morrido de tédio.
Fato é que essa moça saiu de moda. Ainda bem. Porque como era chata, desinteressante e submissa. Credo. Pode até ser que existam alguns exemplares dela por aí, desatualizada que só deve estar afundada no sofá ou fazendo o número da voyeur de Instagram.
Quem curte uma mocinha sonsa, apagada que fala francês e serve o marido adúltero? E pior, quem quer ser essa moça que faz aula de etiqueta e nunca diz o que de fato está pensando?
A nova moça de família é agilizada, sagaz, viva! Gosta da casa cheia (afinal é de família). Junta os pais com os amigos e discute política no jantar. Convida o marido pra assistir seriado erótico e tem o sagrado dia da cervejinha com as amigas.
Talvez essa nova moça não cozinhe muito bem e silencie os grupos da escola no WhatsApp, mas pede um delivery como ninguém e levanta às 6h da matina de ressaca pra fazer a lancheira das crianças. Talvez ela deixe a pia dormir lotada, mas só porque a festa foi boa. Compra orgânico (quando dá), serve o marido (no dia do aniversário dele), canta em francês (Frère Jacques, dormez–vous), liga pros pais (quase sempre) e claro, sofre um pouco achando que poderia fazer mais.
Eu diria que estamos diante de exemplares esplêndidos de toda uma geração de maravilhosas "lokas de família". Que assim, com K não tem nada a ver com a tal louca/histérica que a macharada insiste em adjetivar. Mulheres porretas, comprometidas com seu conglomerado familiar, leais a seus princípios e que sabem viver (sorrir e remendar) a vida.
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