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Lia Bock

Não confunda denúncia com vingança: fuja do picadeiro da exposição pública

Lia Bock

02/02/2018 05h00

(iStock)

Por que (POR QUE?) as pessoas tiram satisfação pública nas redes sociais? Tá aí um fenômeno a ser explicado. Não é incomum que ex-namoradxs, ex-amigxs, ex-sócixs, ex-parceirxs usem as redes para provocar ou expor seu rancor. Vira e mexe tem lá um longo post jogando merda no ventilador online.

Geralmente o objeto da ação odiosa não está linkado no post, mas todo mundo sabe quem é – e se não sabe descobre rapidinho.

Isso se chama sede de vingança e desde que o mundo é mundo, nunca levou ninguém a lugar nenhum. A não ser ao picadeiro trágico da exposição pública.

Por que, meu Deus? Odiar é humano, eu sei. Eu sinto. Sei que querer matar a pessoa faz parte, querer vê-la na lama também, mas daí a botar isso em prática são outros quinhentos. "Ah, mas ele me traiu", "ah, mas ela me desrespeitou", "ah, mas ele me ofendeu"… tudo isso me parecem problemas sérios, tristes e, justamente por isso, coisas que não devemos falar no microfone da vida.

E, mesmo quando estamos falando das maiores sacanagens, será mesmo que o circo online é o melhor lugar pra detonar essa bomba?

Tirando os casos de denúncia, que aí, vá lá, têm sua função social, os outros todos me parecem um excesso de divulgação da vida privada. Será que as pessoas têm confundido denúncia com vingança? Tem chance. Ou, talvez estejam tão acostumadas a viverem (tudo) neste novo espaço público, que esquecem de se fechar quando o cinto aperta.

Nessa hora penso no tatu bola, tão sábio. Ele se fecha quando se sente atacado ou desprotegido. E, vejam, não estou dizendo que as pessoas devem ficar sozinhas e moribundas. Nada disso: temos a nossa rede, nossa família, nossos grupos de socorro no Whatsapp… Será mesmo que precisamos publicar nossa ferida no muro público?

E mais: quando a gente expõe o outro, expõe a si mesmo também e atrai um sem fim de olhares, opiniões e energias pra cima de nós. Isso não há de ser bom, né?

 

 

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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