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Lia Bock

Você sabe o que é autonomia afetiva? Pois deveria...

Lia Bock

08/11/2017 08h00

Li um texto que cunhava a expressão autonomia afetiva e fiquei intrigada com o termo. Gostei dele justamente porque, num primeiro momento, oferece o básico da autoajuda de botequim: "se ame", "se respeite", "aprenda a gostar de você", mas entrega muito mais que isso – porque dizer que as pessoas precisam estar bem sozinhas é um clichê tão pobre quanto achar que só se é feliz a dois.

Autonomia afetiva tem a ver justamente com estar livre das amarras e dos clichês. E, pra mim, remete muito mais a conseguir se livrar de pendências e traumas passados do que estar pleno e preenchido de si mesmo no hoje.

Explico: ser emocionalmente autônomo tem algo de frio, de calculista. Tem algo da lagartixa, que consegue se livrar de seu próprio rabo para se manter viva. Manja? Não é simples. Não é indolor. E tem um custo. Mas é possível e pode te manter no jogo – e curtindo.

A gente vive criando amarras pra nós mesmos. Vamos construindo nossas relações dentro de um sistema que parece amor, mas é só dependência mesmo. E levamos essa bagagem toda pra passear nos anos que nos restam. Levamos vários traumas para as novas relações. E porque fazemos isso? Porque não conseguimos cortar o rabo! Temos a mania de achar que o sofrimento amadurece e nos deixa fortes. Mas será?

Não estou dizendo que deveríamos todos mergulhar numa piscina de antidepressivo e viver flanando sem pousar nossos sentimentos em lugar algum. Não. Sofrer faz parte, quebrar a cara faz parte e saber se reconstruir também. Mas se ficamos presos às nossas próprias cicatrizes, se ficamos nos analisando demais sem conseguir deixar pra trás a parte de nós que nos coloca em risco, acabamos todos dependentes de algo que fomos, acabamos todos amarrados a algo que achamos que devemos ser.

E como bem diz o texto de Anna Haddad, ter autonomia afetiva não é viver bem sozinho, ao contrário: é estar tão livre que podemos nos conectar facilmente aos outros. A diferença é brutal.

E como é que a gente fica livre desse jeito? Como é que a gente consegue ser independente a ponto de conseguir se entregar? Cortando o rabo. Certo? Sabendo deixar pra trás o que ficou pra trás. Tendo força, energia e sabedoria para se reinventar, haja o que houver.

Como eu disse, é meio calculista, mas ao mesmo tempo é de uma beleza imensa. É a liberdade na sua definição mais pura. Não aquela que prega não ter amarras, mas a que te dá sustância e raiz para se prender onde e quando você quiser.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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