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Lia Bock

O amor precisa de mais silêncio e menos textão no Facebook

Lia Bock

24/09/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

O que são formas não verbais de comunicação? Tudo aquilo que comunicamos sem falar ou escrever (e isso inclui áudio de WhatsApps, texto ou emoji). Não sei se todos nós cabulamos as aulas de teatro, mas gente, tá faltando leitura corporal, tá faltando leitura de silêncio, expressões e gestos no que comumente chamamos de casal.

Longe de mim pregar o fim das conversas abertas e a exposição de sentimentos. DRs são necessárias, assim como conversinhas descompromissadas sobre o que esperamos do futuro. Mas no mundo em que declaração de amor boa é com textão no Facebook, começo a achar que perdemos aquela capacidade maravilhosa de calar e ficar confortável com isso.

Quando a gente fala muito, expõe muito, prega muito, vai perdendo a mão com as coisas que não envolvem palavras. Perceber pelo olhar cabisbaixo que há uma angústia, pelas narinas pulsantes que há raiva ou por um abraço mais doce que há amor é maravilhoso. Devolver com um sorriso de leve, com um aperto mais forte da mão ou só com um suspiro transforma esse silêncio em tudo que precisamos dizer (e ouvir).

Quando foi que a palavra atropelou todo o resto? Sempre foi assim ou essa cultura veio com a proliferação dos terapeutas de casal?

Vamos a um exemplo concreto: a pessoa entra em casa. Bate a porta. Tropeça numa mesinha que sempre esteve ali. Deixa cair o celular. Xinga. Bufa. O outro, que observa tudo de longe faz o quê? Pergunta: "tá tudo bem?". Claro que não está tudo bem! Precisa mesmo dessa vocalização óbvia? Que tal testar outras táticas, como servir e oferecer um drink? Dar um abraço de corpo inteiro ou simplesmente se aproximar por trás e fazer uma massagem nos ombros?

Não é à toa que quando estamos putos da vida costumamos alardear: "nem fala comigo!". Isso é o nosso corpo pedindo menos palavra, menos verbalização.

Mas o silêncio incomoda muita gente. O silêncio exige que o corpo leia o mundo de outras formas e estamos cada vez menos preparados pra isso. Acomodados no "blá blá blá" de voz e texto que se transformou a nossa vida.

Tanto é que quem consegue fazer essa leitura com mais facilidade é logo tachado como possuidor de um sexto sentido forte. Mas não tem nada de paranormal aí, maninha tá só observando a direção do seu olhar, o apertar dos teus dedos dos pés ou o jeito que mexeste no cabelo. Pode tentar, certeza que você também consegue.

Sobre a autora

Comentarista na CNN Brasil, a jornalista Lia Bock começou a blogar em 2008 no site da revista "TPM", onde foi também editora-chefe. Passou por publicações como "Isto É", "Veja SP" e "TRIP". É autora dos livros "Manual do Mimimi: do casinho ao casamento (ou vice-versa)” e do "Meu primeiro livro", ambos editados pela Companhia das Letras. É mãe de quatro filhos e pode ser encontrada no Instagram @liabock e no Twitter @euliabock

Sobre o blog

Um espaço para pensatas e divagações sobre notícias, sexo, filhos, coração partido, afetações apaixonadas e o que mais parecer importante ao universo feminino.

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